quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Israel viola Convenção de Genebra, diz relator da ONU

Maurício Reimberg e Tadeu Breda

"Os ataques israelenses ferem a Convenção de Genebra primeiramente porque punem coletivamente os palestinos residentes em Gaza, não fazendo distinção entre alvos civis e combatentes", disse nesta quarta-feira, em São Paulo, Richard Falk, relator especial das Nações Unidas para a situação dos direitos humanos nos territórios ocupados por Israel desde 1967. Segundo Falk, o bloqueio econômico mantido por Israel há 18 meses também está em desacordo com o direito internacional.

As recentes operações militares de Israel na Faixa de Gaza configuram crimes contra a humanidade. Essa é a avaliação do norte-americano Richard Falk, relator especial das Nações Unidas para a situação dos direitos humanos nos territórios ocupados por Israel desde 1967 na Palestina. Em visita ao Brasil, ele concedeu uma entrevista coletiva nesta quarta-feira (7) organizada pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo.

“Os ataques israelenses ferem a 4ª Convenção de Genebra primeiramente porque punem coletivamente os palestinos residentes em Gaza, não fazendo distinção entre alvos civis e combatentes”, diz Falk. Até o momento, estima-se que mais de 700 palestinos foram mortos e três mil feridos desde o início da invasão, no dia 27 de dezembro. Cerca de 25% das vítimas palestinas são civis. Os israelenses contabilizam dez mortes, entre as quais estão quatro civis atingidos por foguetes lançados pelo grupo islâmico Hamas e seis militares caídos em combate – quatro deles vítimas de “fogo amigo”.

O relator da ONU diz que o bloqueio econômico mantido por Israel há 18 meses também está em desacordo com o direito internacional. “A Convenção de Genebra diz que o país ocupante deve prover à população da zona ocupada condições dignas de sobrevivência”, explica Falk. “No entanto, o bloqueio israelense vem impedindo a entrada de alimentos, combustíveis e medicamentos em quantidade suficiente para suprir as necessidades dos habitantes de Gaza.”

Falk lembra que Israel bloqueou totalmente as fronteiras da Faixa de Gaza e não permite sequer que os civis palestinos se refugiem em outros países. “Em todo conflito há um enorme número de refugiados. A proibição de Israel não tem precedentes nas guerras urbanas mundiais”. O relator da ONU diz ainda que o exército israelense utiliza força desproporcional ao atacar uma sociedade “sem condições de se defender”.

O relator acredita que a ONU deveria investir num cessar-fogo imediato entre as partes, na retirada de Israel e no fim do bloqueio contra Gaza, além de proibir o lançamento de foguetes Qassam contra o território israelense – justificativa oficial para a atual operação militar. “A partir dessas bases, as Nações Unidas podem buscar um caminho para definir a autodeterminação do povo palestino.”

O Conselho de Segurança da ONU ainda não chegou a nenhuma medida concreta para encerrar os combates em Gaza. Já o Conselho de Direitos Humanos se reunirá de maneira extraordinária na sexta-feira para emitir um pronunciamento sobre a situação da Palestina.

“A grande pergunta que se deve fazer agora é por que a comunidade internacional e a ONU têm feito tão pouco?”, pergunta Falk. E ele mesmo responde: “As Nações Unidas só atuam efetivamente por intervenção direta de seus cargos mais importantes, e os EUA têm se oposto à proteção dos palestinos e impedido a ONU de cumprir seus compromissos humanitários.

“Anti-Israel”

Considerado um dos maiores especialistas do mundo em direitos humanos, Richard Falk é professor emérito da Universidade de Princeton (EUA). Foi ele quem cunhou os termos “globalização de cima para baixo” e “globalização de baixo para cima”, referindo-se aos diversos movimentos sociais, ONGs e voluntários que tentam criar uma comunidade “além do Estado territorial” para enfrentar as injustiças produzidas pela nova ordem social.

No último dia 14 de dezembro, Falk foi expulso do território israelense no que seria sua primeira missão como relator especial – uma reunião com o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas. Apesar de estar em visita oficial, ele foi detido por 15 horas antes de ser retirado do país. O governo alega que o diplomata é “anti-Israel”.

“Minha expulsão é um claro aviso à ONU de que Israel não quer cooperar com relatores críticos à ocupação, e faz parte de uma política para excluir possíveis testemunhas oculares dos fatos que estão acontecendo em Gaza neste momento”, avalia, lembrando que jornalistas estrangeiros e observadores internacionais também foram impedidos de entrar nas zonas de conflito. “Pensei que minha objetividade como relator seria testada com base no relatório que produziria sobre o evento, e não julgada por antecipação.”

Atores políticos

Falk avalia que o Hamas não é o maior dos obstáculos para o fim das hostilidades na Palestina. “O maior problema são os políticos israelenses que não querem estabelecer uma paz justa na região.” Para ele, classificar os palestinos como “terroristas” é uma fuga da diplomacia e da negociação pacífica, e justifica o uso da força. Ademais, trata-se de uma tática antiga que já foi utilizada para isolar e enfraquecer Yasser Arafat (1929-2004), ex-presidente da ANP.

“Não é útil definir o Hamas como ‘grupo terrorista’, do mesmo jeito que não é útil dizer que Israel é um ‘Estado terrorista’, porque ambos são atores políticos. O terrorismo é uma desculpa para usar a força na tentativa de resolver um conflito que deve ser solucionado por ações políticas”, diz o relator da ONU.

O governo israelense se utiliza de dois argumentos para justificar os ataques e rechaçar um cessar-fogo. Os pronunciamentos oficiais insistem em que não há crise humanitária em Gaza e sustentam a tese de que Israel está agindo defensivamente contra o lançamento de foguetes. Falk acrescenta que nenhum israelense foi morto por foguetes Qassam disparados pelo Hamas nos últimos 12 meses que antecederam os ataques de 27 de dezembro. Os únicos feridos foram contabilizados após o início das ofensivas.

As eleições legislativas em Israel acontecem no dia 10 de fevereiro. Nelas será escolhido o próximo primeiro-ministro do país. Os principais concorrentes ao cargo hoje ocupado por Ehud Olmert são Ehud Barak – atual ministro da Defesa, filiado ao Partido Trabalhista – e Tzipi Livni, do Kadima, que desempenha o cargo de ministra das Relações Exteriores. Ambos negam que Gaza esteja passando por uma crise humanitária.

Território

Cerca de 45% da população de Gaza é composta por crianças com até 14 anos. Desde o início da ofensiva, mais de 100 delas já morreram. Segundo Paulo Sérgio Pinheiro, pesquisador associado do Núcleo de Estudos da Violência da USP, 1,5 milhão de pessoas vivem numa área de 360 km², o que configura a mais alta densidade demográfica do mundo: mais de quatro mil pessoas por km².

Um dos episódios que causaram mais revolta internacional foi o bombardeio à escola Al Fakhora, administrada pelas Nações Unidas, no campo de refugiados de Jabaliya, ao norte de Gaza. Os ataques foram realizados nesta terça-feira (6) e deixaram pelo menos 30 mortos e 55 feridos. A instituição abrigava civis refugiados. No mesmo dia, Israel atentou contra outro colégio mantido pela Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos na cidade de Gaza. Três jovens morreram.

Sob pressão, Israel concordou em estabelecer um “corredor humanitário” que dará acesso temporário limitado a alguns pontos da região. O intuito é permitir que sejam levados suprimentos vitais para a população palestina, cujo estado de carência foi intensificado depois do fim da trégua de seis meses com o Hamas, que expirou no último dia 19. No entanto, o acordo já havia sido rompido por Israel, que no dia 4 de novembro matou seis palestinos em Gaza. “À revelia do que se pensa sobre o Hamas, ele tem buscado uma trégua duradoura com os judeus desde que Israel retornasse às fronteiras anteriores a 1967, proposta que foi ignorada.”

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15470

Crise em Gaza...

Infelizmente, ando meio sem tempo para manter isso aqui... Mas não posso deixar de postar algo sobre a crise em Gaza, como estou sem tempo hábil para fazer buscas acerca do assunto, quem tiver interesse pode visitar o blog Divagações , que está com dois posts interessantes sobre o assunto, inclusive com algumas referências, links para outros blogs, sites e afins, que estão se "ocupando" do tema.

Outra dica seria que vocês não deixassem de visitar o Amálgama , que conta com uma série de traduções do Electronic Intifada (EI) - site 'especialiazado' e com um vasto material sobre o conflito árabe israelense.

Espero que tais links sejam úteis...

sábado, 3 de janeiro de 2009

Cuba...

Como alguns sabem sempre tive um interesse especial por Cuba, principalmente depois de relatos de parentes e amigos que já tiveram a oportunidade de visitar a região...

Visitando o site da BBC Brasil me deparei com duas reportagens que tratavam da ilha achei interessante divulga-las aqui...

Segue então, os artigos na integra...

Cubanos pressionam por mudanças no socialismo

Fernando Ravsberg
De Havana para a BBC Mundo


Poucos duvidam que o futuro de Cuba e seu processo revolucionário será determinado em grande parte pelas medidas que o governo de Raúl Castro adotar nos próximos meses. A maioria dos cubanos - do intelectual ao homem comum - concorda com a necessidade de realizar mudanças.

Até Fidel Castro, pouco antes de ficar doente, disse que o processo revolucionário pode ser destruido "por nós mesmos" e, em um de seus discursos, disse que Revolução é "mudar tudo o que deve ser mudado". Com ele, abriu uma grande porta.

Em 26 de julho de 2007, o general Raúl Castro, já na função de presidente, prometeu fazer reformas estruturais, mas com um limite: "A única coisa que um revolucionário jamais questionará é a nossa decisão de construir o socialismo."

A população, por sua vez, se manifestou com toda a clareza no 1,2 milhão de críticas ao funcionamento do país apresentadas em um debate nacional em 2007, organizado pelo próprio Raúl Castro e do qual participaram 5 milhões de cubanos.

Os intelectuais escolheram a internet. A página espanhola "Kaosenlared" se transformou no centro da polêmica. Ela recebeu centenas de propostas para transformar a realidade cubana, e os internautas da ilha e do exterior promovem discussões em fóruns interativos.

Debate da esquerda

Também é interessante o fato de ter surgido recentemente uma tendência de esquerda mais crítica do sistema, à que se somam comunistas idosos e jovens que, paradoxalmente, apelam para que se construa um "verdadeiro socialismo".

O ex-diplomata Pedro Campos sintentiza o que pensa essa corrente quando diz que "ter mantido o trabalho assalariado como forma de organizar a produção significou, em essência, continuar com o mesmo modo de produção capitalista, mesmo quando se tentou um tipo de distribuição igualitária".

No outro extremo, o economista dissidente Oscar Espinosa Chepe reclama que "o presidente Raúl Castro, conhecido por seu pragmatismo, refletirá sobre a experiência chinesa e retomará a idéia de promover mudanças estruturais e de conceitos".

Enfim, nunca houve um clima tão generalizado a favor de mudanças como o que se pode notar agora. É como se a sociedade inteira percebesse que as coisas já não podem seguir como até agora.

Os que pensam de outra forma, porém, não têm plataforma para sua opinião. O escritor Félix Sautié diz que "os que expressam algo diferente ou que não soe bem em relação ao pensamento oficial estabelecido em ocasiões são qualificados como inimigos".

Como avançar?

Muitos são os que acreditam que o país está imerso em uma grave crise. A agricultura não produz, nas empresas trabalha-se pouco, a corrupção aumenta, o poder aquisitivo está no chão e a emigração de jovens aumenta diariamente.

Lázaro González diz que entre os principais problemas estão "os baixos níveis de produtividade", "a ilegalidade, roubos e corrupção" e "a pouca motivação" do trabalhador que vê a empresa como um "ente estranho".

E a economia parece ser o setor que mais preocupa os cubanos. Uma pesquisa clandestina realizada por uma fundação ligada ao Partido Republicano dos Estados Unidos determinou que mais de 50% dos consultados desejam mudanças econômicas, enquanto as transformações políticas foram exigidas por menos de 10%.

Em pouco tempo, é muito provável que a ilha tenha uma relação diferente com Washington. Chega a se criar uma boa vizinhança e é até possível o levantamento do embargo. Cuba vai ficar sem o "inimigo imperialista" que inflamava os discursos e as massas.

Armando Hart, um dos líderes que acompanham Castro desde a insurreição, prevê que "nasce uma nova etapa no combate ideológico entre a Revolução Cubana e o imperialismo".

As mudanças começaram na semana seguinte à que Raúl Castro assumiu oficialmente a Presidência, mas pararam depois da passagem de furacões pela ilha. Especula-se muito sobre as razões da imobilidade, mas só o governo conhece as verdadeiras causas.

O que acontecer no futuro com a Revolução Cubana estará muito ligado a sua capacidade de se transformar. A população que a apoiou durante décadas reclama hoje melhorias econômicas, sobretudo de salários, alimentação e moradia.

O diretor de cinema Tomás Gutiérrez Alea disse que "o roteiro do socialismo é excelente, mas ao ser encenado deixa muito a desejar".

O sentimento de muitos aqui em Cuba é que a Revolução só escapará desta sentença se for capaz de converter a proposta original de bem-estar em uma realidade palpável para o homem comum.

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2009/01/081230_cuba_raul.shtml

Raúl Castro diz que está 'aberto' a diálogo com Obama

Raúl Castro alertou para grandes expectativas a respeito de Obama
O presidente cubano, Raúl Castro, disse que está disposto a dialogar sem intermediários com o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama.
Castro descreveu o futuro presidente dos EUA como um “homem honesto”, mas disse que sua eleição despertou “esperanças excessivas”.

“O presidente que está chegando despertou expectativas em muitas partes do mundo, expectativas que eu julgo muito altas”, disse o presidente em um pronunciamento de TV na sexta-feira.

Raúl Castro, que sucedeu o irmão Fidel na presidência cubana em fevereiro do ano passado, disse, no entanto, que o futuro presidente americano poderá “tomar passos muito positivos”.

Obama, que toma posse no próximo dia 20, já sinalizou que pretende relaxar o embargo comercial que os Estados Unidos impõem contra Cuba.

Em um discurso na quinta-feira, dia em que os cubanos comemoraram 50 anos da revolução comunista que levou Fidel Castro ao poder, Raúl disse que a “revolução sobreviverá outros 50 anos”.

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2009/01/090103_raulobamahonesto_fp.shtml

sábado, 15 de novembro de 2008

Análise: Os 10 maiores desafios globais que Obama irá enfrentar...

Paul Reynolds
Da BBC News

O presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, enfrentará uma série de problemas de política externa assim que assumir a Casa Branca, no dia 20 de janeiro de 2009.

Papel dos EUA no mundo

Uma conclusão da eleição americana é que o eleitorado quer uma mudança significativa na área de política externa em relação ao governo de George W. Bush.

A mudança pode ser um fortalecimento do multilateralismo em detrimento do unilateralismo, com menos ênfase nos Estados Unidos como "única superpotência mundial".

A confrontação poderá abrir caminho para mais diplomacia.

No entanto, os presidentes americanos geralmente acabam se envolvendo em conflitos e guerras. Obama chega ao cargo tendo que enfrentar duas guerras já em andamento, no Iraque e no Afeganistão. Como ele vai reagir definirá a sua era na Casa Branca.

Iraque

Barack Obama disse que vai pedir que seus comandantes redefinam a missão para "terminar a guerra de forma bem-sucedida". Mas isso precisa ser feito com responsabilidade, segundo o presidente eleito.

Ele disse que isso significa dar tempo para que o governo iraquiano fortaleça suas próprias forças armadas. Ele também quer uma retirada em fases da maioria das tropas americanas "dentro de 16 meses" a partir da sua posse, o que significa no máximo até maio de 2010.

Potencialmente, isso pode ser uma política de muito sucesso. No entanto, um pequeno contingente militar americano deve continuar no Iraque, então uma retirada completa não deve acontecer.

Afeganistão

Talvez este seja o maior desafio de Obama. Se no Iraque a guerra parece estar acabando, no Afeganistão ela está se intensificando.

Obama promete "focar no Afeganistão". Ele disse que vai enviar mais duas brigadas de combate. Ele também prometeu atacar a Al-Qaeda, especialmente Osama Bin Laden, com ou sem a ajuda do Paquistão.

Melhorar a situação no Afeganistão significa melhorar o desempenho do governo afegão e tentar desenvolver uma política mais eficiente no Paquistão (cuja própria estabilidade é um problema), para minar os esforços do Talebã e da Al-Qaeda.

"Guerra contra o terror"

A famosa frase de Bush pode ter menos força no governo Obama. Ele quer se concentrar em vencer a "batalha das idéias" ao "voltar a uma política externa americana consistente com os valores tradicionais americanos, fazendo parcerias com moderados no mundo islâmico para contrabalançar a propaganda da Al-Qaeda".

No entanto, ainda deve haver uma política americana vigorosa. Ele disse que "não vai hesitar em usar força militar para retirar terroristas que ameaçam diretamente os Estados Unidos".

Dois indicadores serão importantes: o fechamento da prisão em Guantánamo e a extensão da proibição de tortura na CIA, a agência de inteligência americana.

Se Guantánamo for fechada, ele terá de decidir o que fazer com os 255 detentos. Obama sugeriu usar o sistema legal normal dos Estados Unidos para condená-los, mas há dados usados em comissões militares (obtidos por coerção) que não poderiam ser usados em tribunais americanos.
A Al-Qaeda também deve continuar sendo um problema, com atividades na Argélia e Somália.

Irã

Potencialmente daí pode surgir uma grande crise, mas muito depende de como o Irã reagir.
Se continuar com o programa de enriquecimento de urânio, isso pode levar o novo governo a seguir ou até ampliar sanções.

Um aumento da atividade nuclear iraniana seria um sinal de aumento da sua força. Nesse caso, Israel exigiria ataques aéreos contra o Irã. A conseqüência de um ataque desses seria grave.

Obama disse que conversará com o Irã "sem condições", apesar de que provavelmente não em nível presidencial. O atual governo iraniano não deve ceder no enriquecimento de urânio, então é possível que qualquer acordo incorpore isso como um direito do Irã.

Paz no Oriente Médio

Bush disse que esperava um acordo entre israelenses e palestinos até o final deste ano, mas isso parece impossível.

Então Obama terá provavelmente que enfrentar a eterna questão sobre como intervir no processo de paz do jeito que ele está.

O primeiro passo será a eleição israelense, no dia 10 de fevereiro, que deve indicar se o governo israelense estará pronto para fazer um acordo.

Além da questão Israel-Palestina, ainda existe o que Richard Holbrooke, um possível secretário de Estado, chama de "arco da crise", que se estende da Turquia ao Paquistão. Isso inclui a Síria, cuja ajuda é necessária para estabilizar o Iraque.

Rússia

Os eventos recentes na Geórgia precipitaram uma crise nas relações entre a Rússia e o Ocidente, que estão no pior nível desde a Guerra Fria.

Há frustrações dos dois lados e existe muita incerteza sobre como o novo governo vai lidar com a Rússia. A ajuda dos russos é necessária para lidar com problemas com Irã e Darfur, onde ação do Conselho de Segurança é importante.

O assunto imediato é como permitir que a Geórgia e a Ucrânia entrem na Otan, a aliança militar do Ocidente. A Rússia é contra a entrada dos países na organização, e ministros da Otan discutirão esse assunto em dezembro. Mesmo integrantes do governo Bush já dizem que o ingresso pode acontecer só daqui a anos.

O sistema antimísseis a ser instalado pelos Estados Unidos na Polônia e República Checa continua sendo um problema para a Rússia.

A forma como Obama vai lidar com Moscou vai indicar também sua posição em relação a assuntos nucleares. Um assunto pendente é saber como Rússia e Estados Unidos vão negociar a redução dos seus arsenais atômicos.

Em uma frente mais ampla, Obama apoiou o pedido feito no ano passado por ex-diplomatas americanos (entre eles, Henry Kissinger) para que os Estados Unidos lutem por um mundo sem armas nucleares, como prevê o Tratado de Não-Proliferação.

Coréia do Norte

As últimas ações da Coréia do Norte foram positivas. O país concordou com procedimentos de inspeção internacional do seu programa nuclear, que está sendo desmantelado. Em troca, o país recebeu a promessa de sair da lista americana de patrocinadores do terrorismo.

Mas a Coréia do Norte deve provavelmente continuar com suas armas nucleares. Como o presidente americano vai conseguir reverter isso e com quem ele vai lidar – já que o estado de saúde de Kim Jong-il é incerto – são dúvidas que persistem.

China

As relações americanas com a China estão em um momento importante, já que o país é membro permanente do Conselho de Segurança e tem grande influência econômica no mundo.

A China não é um problema direto para os Estados Unidos, mas o futuro de Taiwan e do Tibete são dois assuntos que têm potencial para dividir a relação.

Recentemente, a China preferiu se concentrar no seu desenvolvimento econômico. Enquanto isso continuar assim, as relações com os Estados Unidos devem permanecer estáveis. Não há sinais de que Obama queira fazer qualquer mudança.

Nova diplomacia: finanças, aquecimento global, energia

Diversos temas entram na definição de "nova diplomacia".

A crise financeira vai forçar o próximo presidente a ter uma atitude mais incisiva do que o normal. E ele terá de administrar um mundo com menos influência financeira dos Estados Unidos.

Obama está comprometido com o combate ao aquecimento global. Ele quer reduzir a emissão de gases nocivos ao meio ambiente em 80% até 2050. Este será um dos temas mais importantes do seu governo, já que o Protocolo de Kyoto expira em 2012 e as negociações para estender as metas estão emperradas.

Energia, especialmente petróleo, será outro desafio. Obama prometeu eliminar a dependência americana no Oriente Médio e na Venezuela em dez anos. No entanto, praticamente todos os presidentes americanos vêm dizendo isso desde 1979.

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/11/081105_obama_desafios_dg.shtml

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Sobre o conflito no Congo...

Situação no Congo é 'catastrófica', diz Cruz Vermelha

Os conflitos entre forças rebeldes e o exército na República Democrática do Congo causaram uma “catástrofe humanitária” no país, afirmou o Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

Esforços diplomáticos estão sendo feitos para tentar solucionar a crise, que pode se espalhar pelo país vizinho, Ruanda.

Um cessar-fogo foi declarado pelos rebeldes na última quarta-feira na cidade de Goma, no leste do país, de onde dezenas de milhares de congoleses foram obrigados a se deslocar com o avanço das tropas rebeldes.

Apesar do cessar-fogo, o general rebelde Laurent Nkunda ameaçou tomar a cidade, a menos que as tropas da ONU garantam a trégua.

Assassinatos e estupros foram reportados na cidade e a ajuda humanitária não está chegando aos desabrigados.

Agências de ajuda humanitária como a Oxfam decidiram retirar seus funcionários estrangeiros de Goma.

Michael Khambatta, do Comitê Intenacional da Cruz Vermelha, disse à BBC que a prioridade agora é fornecer comida, remédios, abrigo e alguma forma de segurança aos civis que foram forçados a deixar suas casas.

Cessar-fogo

Na última quarta-feira, depois de dias de combates com as tropas governamentais, o general Nkunda declarou um cessar-fogo e suas tropas ficaram posicionadas a cerca de 15 quilômetros de Goma, capital da província de Kivu do Norte.

Ele prometeu abrir um “corredor humanitário” para que a ajuda possa chegar aos refugiados, que estão entre seus soldados e membros das forças de paz da ONU, que estão dando cobertura às tropas governamentais.

A ONU está considerando reposicionar parte de seus 17 mil soldados no país para dar reforço aos 5 mil homens que estão na cidade.

O general rebelde Nkunda disse à BBC que suas forças pretendem proteger a minoria tutsi do país de ataques de rebeldes hutus de Ruanda, acusados de participarem do genocídio de tutsis no país em 1994.

As tropas de de Nkunda são acusadas de receber apoio do governo de Ruanda, atualmente governada pelos tutsis, o que o país nega.

Analistas afirmam que além das diferenças étnicas, o conflito também se deve à disputa pelas riquezas minerais da região.

Esforços diplomáticos

Nesta quinta-feira, a Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou estar mandando delegados para a República Democrática do Congo e para Ruanda para tentar dar uma solução diplomática para os conflitos que se intensificaram nas últimas semanas.

Os dois países se acusam mutuamente de estarem promovendo incursões além de suas fronteiras.

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, alertou que a violência está criando uma crise de “dimensões catastróficas” no país.

Um dos porta-vozes de Ban disse que delegados estão sendo enviados para Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, e Kigali, em Ruanda.

O ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, também declarou que a União Européia estuda o envio de soldados e ajuda humanitária ao país.

Ele afirmou que o eventual envio de uma força européia pode contar com 1.500 homens, mas eles não participariam dos combates.

Kouchner ainda afirmou que o Comitê de Segurança da União Européia vai se encontrar em Bruxelas para discutir a idéia.

Mas, o que quer que aconteça, o final dos conflitos pode não vir tão rápido quanto necessário, diz o correspondente da BBC Peter Greste, na fronteira da República Democrática do Congo com Ruanda.

Nos dois últimos meses, mais de 200 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas no leste do Congo.

Enquanto muitas procuraram abrigo em Goma, outras se refugiaram nas florestas, onde não podem ser alcançadas pelas milícias. Mas lá, também não podem ser auxiliadas pelas agências humanitárias.

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/10/081031_congo_conflito_cq.shtml
Entenda os confrontos entre governo e rebeldes no Congo

Os confrontos entre tropas da República Democrática do Congo e rebeldes liderados pelo general Laurent Nkunda aumentam o risco de uma crise humana na região.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), até 45 mil pessoas já deixaram campos de internamente deslocados no leste do Congo, fugindo dos rebeldes que estão avançando pela região - que já tem cerca de 1 milhão de deslocados.

As forças rebeldes ameaçam tomar Goma, capital da província de Kivu do Norte e uma das maiores cidades do leste do país.

Os confrontos ganharam força a partir de agosto, quando um acordo de paz assinado entre governo e rebeldes em janeiro foi suspenso.

A BBC responde a algumas perguntas sobre o que motivou os conflitos e quais as possíveis conseqüências.

Por que estão ocorrendo novos confrontos?

Não está claro ainda. O general Nkunda diz que luta para proteger sua etnia, a tutsi, de ataques por parte de rebeldes ruandeses da etnia hutu. Entre esses rebeldes, segundo Nkunda, estariam alguns acusados de participar do genocídio ocorrido em Ruanda em 1994.

No genocído de Ruanda, milícias extremistas hutu e integrantes do Exército ruandês foram acusados de cometer um massacre sistemático de tutsis. Em cem dias, cerca de 800 mil tutsis e hutus moderados foram mortos.

O governo do Congo já prometeu repetidas vezes impedir que milícias hutus utilizem seu território, mas até agora não cumpriu a promessa.

O último prazo para cumprir essa medida expirou no final de agosto, exatamente quando os cofrontos foram retomados.

No entanto, alguns analistas afirmam que os confrontos poderiam ter outro motivo. O leste do Congo é rico em recursos naturais, como ouro, e a luta poderia ser pelo controle dessas riquezas.

O general Nkunda tem apoio de alguém?

O governo do Congo acusa Ruanda de apoiar o general Nkunda com tropas e artilharia pesada.

Ruanda nega essas acusações, apesar de ter invadido o Congo duas vezes nos últimos anos.

O presidente de Ruanda, Paul Kagame, é um ex-rebelde tutsi que participou do fim do genocídio.

O Exército congolês é acusado de colaborar com rebeldes hutus tanto nos confrontos armados como na exploração das minas da região.

Isso leva alguns analistas a afirmar que seria plausível que Ruanda estivesse usando as forças do general Nkunda para pressionar o Congo a cumprir sua promessa de desarmar as milícias hutus.

O que a ONU tem feito em relação ao conflito?

Essa é a pergunta feita por muitos congoleses. A ONU tem uma força de paz de 17 mil soldados no Congo - a maior missão da organização no mundo.

Alguns congoleses acusam a ONU de não fazer nada, e já houve ataques aos escritórios da organização em Goma.

A missão da ONU, porém, enviou helicópteros para ajudar a frear o avanço das forças rebeldes em Goma e pediu reforços para ajudar a pôr fim aos confrontos.

Qual a situação dos civis?

Agentes humanitários estão extremamente preocupados com as dezenas de milhares de pessoas que vivem na área dos conflitos.

Todos os lados são acusados de cometer atrocidades contra civis, principalmente estupros em massa.

Segundo a ONU, até 45 mil pessoas já deixaram campos de internamente deslocados no leste do Congo para fugir dos rebeldes e seguiram para Goma.

Muitas das pessoas que fugiram para Goma são obrigadas a dormir ao ar livre e contam apenas com a ajuda dos habitantes locais e de agências humanitárias para conseguir comida.

A previsão é de que muitos outros sejam afetados pelos confrontos.

A ONU também teme que haja muitas mortes por desnutrição.

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/10/081030_congoentenda_ac.shtml

quinta-feira, 30 de outubro de 2008