quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Israel viola Convenção de Genebra, diz relator da ONU

Maurício Reimberg e Tadeu Breda

"Os ataques israelenses ferem a Convenção de Genebra primeiramente porque punem coletivamente os palestinos residentes em Gaza, não fazendo distinção entre alvos civis e combatentes", disse nesta quarta-feira, em São Paulo, Richard Falk, relator especial das Nações Unidas para a situação dos direitos humanos nos territórios ocupados por Israel desde 1967. Segundo Falk, o bloqueio econômico mantido por Israel há 18 meses também está em desacordo com o direito internacional.

As recentes operações militares de Israel na Faixa de Gaza configuram crimes contra a humanidade. Essa é a avaliação do norte-americano Richard Falk, relator especial das Nações Unidas para a situação dos direitos humanos nos territórios ocupados por Israel desde 1967 na Palestina. Em visita ao Brasil, ele concedeu uma entrevista coletiva nesta quarta-feira (7) organizada pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo.

“Os ataques israelenses ferem a 4ª Convenção de Genebra primeiramente porque punem coletivamente os palestinos residentes em Gaza, não fazendo distinção entre alvos civis e combatentes”, diz Falk. Até o momento, estima-se que mais de 700 palestinos foram mortos e três mil feridos desde o início da invasão, no dia 27 de dezembro. Cerca de 25% das vítimas palestinas são civis. Os israelenses contabilizam dez mortes, entre as quais estão quatro civis atingidos por foguetes lançados pelo grupo islâmico Hamas e seis militares caídos em combate – quatro deles vítimas de “fogo amigo”.

O relator da ONU diz que o bloqueio econômico mantido por Israel há 18 meses também está em desacordo com o direito internacional. “A Convenção de Genebra diz que o país ocupante deve prover à população da zona ocupada condições dignas de sobrevivência”, explica Falk. “No entanto, o bloqueio israelense vem impedindo a entrada de alimentos, combustíveis e medicamentos em quantidade suficiente para suprir as necessidades dos habitantes de Gaza.”

Falk lembra que Israel bloqueou totalmente as fronteiras da Faixa de Gaza e não permite sequer que os civis palestinos se refugiem em outros países. “Em todo conflito há um enorme número de refugiados. A proibição de Israel não tem precedentes nas guerras urbanas mundiais”. O relator da ONU diz ainda que o exército israelense utiliza força desproporcional ao atacar uma sociedade “sem condições de se defender”.

O relator acredita que a ONU deveria investir num cessar-fogo imediato entre as partes, na retirada de Israel e no fim do bloqueio contra Gaza, além de proibir o lançamento de foguetes Qassam contra o território israelense – justificativa oficial para a atual operação militar. “A partir dessas bases, as Nações Unidas podem buscar um caminho para definir a autodeterminação do povo palestino.”

O Conselho de Segurança da ONU ainda não chegou a nenhuma medida concreta para encerrar os combates em Gaza. Já o Conselho de Direitos Humanos se reunirá de maneira extraordinária na sexta-feira para emitir um pronunciamento sobre a situação da Palestina.

“A grande pergunta que se deve fazer agora é por que a comunidade internacional e a ONU têm feito tão pouco?”, pergunta Falk. E ele mesmo responde: “As Nações Unidas só atuam efetivamente por intervenção direta de seus cargos mais importantes, e os EUA têm se oposto à proteção dos palestinos e impedido a ONU de cumprir seus compromissos humanitários.

“Anti-Israel”

Considerado um dos maiores especialistas do mundo em direitos humanos, Richard Falk é professor emérito da Universidade de Princeton (EUA). Foi ele quem cunhou os termos “globalização de cima para baixo” e “globalização de baixo para cima”, referindo-se aos diversos movimentos sociais, ONGs e voluntários que tentam criar uma comunidade “além do Estado territorial” para enfrentar as injustiças produzidas pela nova ordem social.

No último dia 14 de dezembro, Falk foi expulso do território israelense no que seria sua primeira missão como relator especial – uma reunião com o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas. Apesar de estar em visita oficial, ele foi detido por 15 horas antes de ser retirado do país. O governo alega que o diplomata é “anti-Israel”.

“Minha expulsão é um claro aviso à ONU de que Israel não quer cooperar com relatores críticos à ocupação, e faz parte de uma política para excluir possíveis testemunhas oculares dos fatos que estão acontecendo em Gaza neste momento”, avalia, lembrando que jornalistas estrangeiros e observadores internacionais também foram impedidos de entrar nas zonas de conflito. “Pensei que minha objetividade como relator seria testada com base no relatório que produziria sobre o evento, e não julgada por antecipação.”

Atores políticos

Falk avalia que o Hamas não é o maior dos obstáculos para o fim das hostilidades na Palestina. “O maior problema são os políticos israelenses que não querem estabelecer uma paz justa na região.” Para ele, classificar os palestinos como “terroristas” é uma fuga da diplomacia e da negociação pacífica, e justifica o uso da força. Ademais, trata-se de uma tática antiga que já foi utilizada para isolar e enfraquecer Yasser Arafat (1929-2004), ex-presidente da ANP.

“Não é útil definir o Hamas como ‘grupo terrorista’, do mesmo jeito que não é útil dizer que Israel é um ‘Estado terrorista’, porque ambos são atores políticos. O terrorismo é uma desculpa para usar a força na tentativa de resolver um conflito que deve ser solucionado por ações políticas”, diz o relator da ONU.

O governo israelense se utiliza de dois argumentos para justificar os ataques e rechaçar um cessar-fogo. Os pronunciamentos oficiais insistem em que não há crise humanitária em Gaza e sustentam a tese de que Israel está agindo defensivamente contra o lançamento de foguetes. Falk acrescenta que nenhum israelense foi morto por foguetes Qassam disparados pelo Hamas nos últimos 12 meses que antecederam os ataques de 27 de dezembro. Os únicos feridos foram contabilizados após o início das ofensivas.

As eleições legislativas em Israel acontecem no dia 10 de fevereiro. Nelas será escolhido o próximo primeiro-ministro do país. Os principais concorrentes ao cargo hoje ocupado por Ehud Olmert são Ehud Barak – atual ministro da Defesa, filiado ao Partido Trabalhista – e Tzipi Livni, do Kadima, que desempenha o cargo de ministra das Relações Exteriores. Ambos negam que Gaza esteja passando por uma crise humanitária.

Território

Cerca de 45% da população de Gaza é composta por crianças com até 14 anos. Desde o início da ofensiva, mais de 100 delas já morreram. Segundo Paulo Sérgio Pinheiro, pesquisador associado do Núcleo de Estudos da Violência da USP, 1,5 milhão de pessoas vivem numa área de 360 km², o que configura a mais alta densidade demográfica do mundo: mais de quatro mil pessoas por km².

Um dos episódios que causaram mais revolta internacional foi o bombardeio à escola Al Fakhora, administrada pelas Nações Unidas, no campo de refugiados de Jabaliya, ao norte de Gaza. Os ataques foram realizados nesta terça-feira (6) e deixaram pelo menos 30 mortos e 55 feridos. A instituição abrigava civis refugiados. No mesmo dia, Israel atentou contra outro colégio mantido pela Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos na cidade de Gaza. Três jovens morreram.

Sob pressão, Israel concordou em estabelecer um “corredor humanitário” que dará acesso temporário limitado a alguns pontos da região. O intuito é permitir que sejam levados suprimentos vitais para a população palestina, cujo estado de carência foi intensificado depois do fim da trégua de seis meses com o Hamas, que expirou no último dia 19. No entanto, o acordo já havia sido rompido por Israel, que no dia 4 de novembro matou seis palestinos em Gaza. “À revelia do que se pensa sobre o Hamas, ele tem buscado uma trégua duradoura com os judeus desde que Israel retornasse às fronteiras anteriores a 1967, proposta que foi ignorada.”

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15470

Crise em Gaza...

Infelizmente, ando meio sem tempo para manter isso aqui... Mas não posso deixar de postar algo sobre a crise em Gaza, como estou sem tempo hábil para fazer buscas acerca do assunto, quem tiver interesse pode visitar o blog Divagações , que está com dois posts interessantes sobre o assunto, inclusive com algumas referências, links para outros blogs, sites e afins, que estão se "ocupando" do tema.

Outra dica seria que vocês não deixassem de visitar o Amálgama , que conta com uma série de traduções do Electronic Intifada (EI) - site 'especialiazado' e com um vasto material sobre o conflito árabe israelense.

Espero que tais links sejam úteis...

sábado, 3 de janeiro de 2009

Cuba...

Como alguns sabem sempre tive um interesse especial por Cuba, principalmente depois de relatos de parentes e amigos que já tiveram a oportunidade de visitar a região...

Visitando o site da BBC Brasil me deparei com duas reportagens que tratavam da ilha achei interessante divulga-las aqui...

Segue então, os artigos na integra...

Cubanos pressionam por mudanças no socialismo

Fernando Ravsberg
De Havana para a BBC Mundo


Poucos duvidam que o futuro de Cuba e seu processo revolucionário será determinado em grande parte pelas medidas que o governo de Raúl Castro adotar nos próximos meses. A maioria dos cubanos - do intelectual ao homem comum - concorda com a necessidade de realizar mudanças.

Até Fidel Castro, pouco antes de ficar doente, disse que o processo revolucionário pode ser destruido "por nós mesmos" e, em um de seus discursos, disse que Revolução é "mudar tudo o que deve ser mudado". Com ele, abriu uma grande porta.

Em 26 de julho de 2007, o general Raúl Castro, já na função de presidente, prometeu fazer reformas estruturais, mas com um limite: "A única coisa que um revolucionário jamais questionará é a nossa decisão de construir o socialismo."

A população, por sua vez, se manifestou com toda a clareza no 1,2 milhão de críticas ao funcionamento do país apresentadas em um debate nacional em 2007, organizado pelo próprio Raúl Castro e do qual participaram 5 milhões de cubanos.

Os intelectuais escolheram a internet. A página espanhola "Kaosenlared" se transformou no centro da polêmica. Ela recebeu centenas de propostas para transformar a realidade cubana, e os internautas da ilha e do exterior promovem discussões em fóruns interativos.

Debate da esquerda

Também é interessante o fato de ter surgido recentemente uma tendência de esquerda mais crítica do sistema, à que se somam comunistas idosos e jovens que, paradoxalmente, apelam para que se construa um "verdadeiro socialismo".

O ex-diplomata Pedro Campos sintentiza o que pensa essa corrente quando diz que "ter mantido o trabalho assalariado como forma de organizar a produção significou, em essência, continuar com o mesmo modo de produção capitalista, mesmo quando se tentou um tipo de distribuição igualitária".

No outro extremo, o economista dissidente Oscar Espinosa Chepe reclama que "o presidente Raúl Castro, conhecido por seu pragmatismo, refletirá sobre a experiência chinesa e retomará a idéia de promover mudanças estruturais e de conceitos".

Enfim, nunca houve um clima tão generalizado a favor de mudanças como o que se pode notar agora. É como se a sociedade inteira percebesse que as coisas já não podem seguir como até agora.

Os que pensam de outra forma, porém, não têm plataforma para sua opinião. O escritor Félix Sautié diz que "os que expressam algo diferente ou que não soe bem em relação ao pensamento oficial estabelecido em ocasiões são qualificados como inimigos".

Como avançar?

Muitos são os que acreditam que o país está imerso em uma grave crise. A agricultura não produz, nas empresas trabalha-se pouco, a corrupção aumenta, o poder aquisitivo está no chão e a emigração de jovens aumenta diariamente.

Lázaro González diz que entre os principais problemas estão "os baixos níveis de produtividade", "a ilegalidade, roubos e corrupção" e "a pouca motivação" do trabalhador que vê a empresa como um "ente estranho".

E a economia parece ser o setor que mais preocupa os cubanos. Uma pesquisa clandestina realizada por uma fundação ligada ao Partido Republicano dos Estados Unidos determinou que mais de 50% dos consultados desejam mudanças econômicas, enquanto as transformações políticas foram exigidas por menos de 10%.

Em pouco tempo, é muito provável que a ilha tenha uma relação diferente com Washington. Chega a se criar uma boa vizinhança e é até possível o levantamento do embargo. Cuba vai ficar sem o "inimigo imperialista" que inflamava os discursos e as massas.

Armando Hart, um dos líderes que acompanham Castro desde a insurreição, prevê que "nasce uma nova etapa no combate ideológico entre a Revolução Cubana e o imperialismo".

As mudanças começaram na semana seguinte à que Raúl Castro assumiu oficialmente a Presidência, mas pararam depois da passagem de furacões pela ilha. Especula-se muito sobre as razões da imobilidade, mas só o governo conhece as verdadeiras causas.

O que acontecer no futuro com a Revolução Cubana estará muito ligado a sua capacidade de se transformar. A população que a apoiou durante décadas reclama hoje melhorias econômicas, sobretudo de salários, alimentação e moradia.

O diretor de cinema Tomás Gutiérrez Alea disse que "o roteiro do socialismo é excelente, mas ao ser encenado deixa muito a desejar".

O sentimento de muitos aqui em Cuba é que a Revolução só escapará desta sentença se for capaz de converter a proposta original de bem-estar em uma realidade palpável para o homem comum.

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2009/01/081230_cuba_raul.shtml

Raúl Castro diz que está 'aberto' a diálogo com Obama

Raúl Castro alertou para grandes expectativas a respeito de Obama
O presidente cubano, Raúl Castro, disse que está disposto a dialogar sem intermediários com o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama.
Castro descreveu o futuro presidente dos EUA como um “homem honesto”, mas disse que sua eleição despertou “esperanças excessivas”.

“O presidente que está chegando despertou expectativas em muitas partes do mundo, expectativas que eu julgo muito altas”, disse o presidente em um pronunciamento de TV na sexta-feira.

Raúl Castro, que sucedeu o irmão Fidel na presidência cubana em fevereiro do ano passado, disse, no entanto, que o futuro presidente americano poderá “tomar passos muito positivos”.

Obama, que toma posse no próximo dia 20, já sinalizou que pretende relaxar o embargo comercial que os Estados Unidos impõem contra Cuba.

Em um discurso na quinta-feira, dia em que os cubanos comemoraram 50 anos da revolução comunista que levou Fidel Castro ao poder, Raúl disse que a “revolução sobreviverá outros 50 anos”.

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2009/01/090103_raulobamahonesto_fp.shtml