sábado, 15 de novembro de 2008

Análise: Os 10 maiores desafios globais que Obama irá enfrentar...

Paul Reynolds
Da BBC News

O presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, enfrentará uma série de problemas de política externa assim que assumir a Casa Branca, no dia 20 de janeiro de 2009.

Papel dos EUA no mundo

Uma conclusão da eleição americana é que o eleitorado quer uma mudança significativa na área de política externa em relação ao governo de George W. Bush.

A mudança pode ser um fortalecimento do multilateralismo em detrimento do unilateralismo, com menos ênfase nos Estados Unidos como "única superpotência mundial".

A confrontação poderá abrir caminho para mais diplomacia.

No entanto, os presidentes americanos geralmente acabam se envolvendo em conflitos e guerras. Obama chega ao cargo tendo que enfrentar duas guerras já em andamento, no Iraque e no Afeganistão. Como ele vai reagir definirá a sua era na Casa Branca.

Iraque

Barack Obama disse que vai pedir que seus comandantes redefinam a missão para "terminar a guerra de forma bem-sucedida". Mas isso precisa ser feito com responsabilidade, segundo o presidente eleito.

Ele disse que isso significa dar tempo para que o governo iraquiano fortaleça suas próprias forças armadas. Ele também quer uma retirada em fases da maioria das tropas americanas "dentro de 16 meses" a partir da sua posse, o que significa no máximo até maio de 2010.

Potencialmente, isso pode ser uma política de muito sucesso. No entanto, um pequeno contingente militar americano deve continuar no Iraque, então uma retirada completa não deve acontecer.

Afeganistão

Talvez este seja o maior desafio de Obama. Se no Iraque a guerra parece estar acabando, no Afeganistão ela está se intensificando.

Obama promete "focar no Afeganistão". Ele disse que vai enviar mais duas brigadas de combate. Ele também prometeu atacar a Al-Qaeda, especialmente Osama Bin Laden, com ou sem a ajuda do Paquistão.

Melhorar a situação no Afeganistão significa melhorar o desempenho do governo afegão e tentar desenvolver uma política mais eficiente no Paquistão (cuja própria estabilidade é um problema), para minar os esforços do Talebã e da Al-Qaeda.

"Guerra contra o terror"

A famosa frase de Bush pode ter menos força no governo Obama. Ele quer se concentrar em vencer a "batalha das idéias" ao "voltar a uma política externa americana consistente com os valores tradicionais americanos, fazendo parcerias com moderados no mundo islâmico para contrabalançar a propaganda da Al-Qaeda".

No entanto, ainda deve haver uma política americana vigorosa. Ele disse que "não vai hesitar em usar força militar para retirar terroristas que ameaçam diretamente os Estados Unidos".

Dois indicadores serão importantes: o fechamento da prisão em Guantánamo e a extensão da proibição de tortura na CIA, a agência de inteligência americana.

Se Guantánamo for fechada, ele terá de decidir o que fazer com os 255 detentos. Obama sugeriu usar o sistema legal normal dos Estados Unidos para condená-los, mas há dados usados em comissões militares (obtidos por coerção) que não poderiam ser usados em tribunais americanos.
A Al-Qaeda também deve continuar sendo um problema, com atividades na Argélia e Somália.

Irã

Potencialmente daí pode surgir uma grande crise, mas muito depende de como o Irã reagir.
Se continuar com o programa de enriquecimento de urânio, isso pode levar o novo governo a seguir ou até ampliar sanções.

Um aumento da atividade nuclear iraniana seria um sinal de aumento da sua força. Nesse caso, Israel exigiria ataques aéreos contra o Irã. A conseqüência de um ataque desses seria grave.

Obama disse que conversará com o Irã "sem condições", apesar de que provavelmente não em nível presidencial. O atual governo iraniano não deve ceder no enriquecimento de urânio, então é possível que qualquer acordo incorpore isso como um direito do Irã.

Paz no Oriente Médio

Bush disse que esperava um acordo entre israelenses e palestinos até o final deste ano, mas isso parece impossível.

Então Obama terá provavelmente que enfrentar a eterna questão sobre como intervir no processo de paz do jeito que ele está.

O primeiro passo será a eleição israelense, no dia 10 de fevereiro, que deve indicar se o governo israelense estará pronto para fazer um acordo.

Além da questão Israel-Palestina, ainda existe o que Richard Holbrooke, um possível secretário de Estado, chama de "arco da crise", que se estende da Turquia ao Paquistão. Isso inclui a Síria, cuja ajuda é necessária para estabilizar o Iraque.

Rússia

Os eventos recentes na Geórgia precipitaram uma crise nas relações entre a Rússia e o Ocidente, que estão no pior nível desde a Guerra Fria.

Há frustrações dos dois lados e existe muita incerteza sobre como o novo governo vai lidar com a Rússia. A ajuda dos russos é necessária para lidar com problemas com Irã e Darfur, onde ação do Conselho de Segurança é importante.

O assunto imediato é como permitir que a Geórgia e a Ucrânia entrem na Otan, a aliança militar do Ocidente. A Rússia é contra a entrada dos países na organização, e ministros da Otan discutirão esse assunto em dezembro. Mesmo integrantes do governo Bush já dizem que o ingresso pode acontecer só daqui a anos.

O sistema antimísseis a ser instalado pelos Estados Unidos na Polônia e República Checa continua sendo um problema para a Rússia.

A forma como Obama vai lidar com Moscou vai indicar também sua posição em relação a assuntos nucleares. Um assunto pendente é saber como Rússia e Estados Unidos vão negociar a redução dos seus arsenais atômicos.

Em uma frente mais ampla, Obama apoiou o pedido feito no ano passado por ex-diplomatas americanos (entre eles, Henry Kissinger) para que os Estados Unidos lutem por um mundo sem armas nucleares, como prevê o Tratado de Não-Proliferação.

Coréia do Norte

As últimas ações da Coréia do Norte foram positivas. O país concordou com procedimentos de inspeção internacional do seu programa nuclear, que está sendo desmantelado. Em troca, o país recebeu a promessa de sair da lista americana de patrocinadores do terrorismo.

Mas a Coréia do Norte deve provavelmente continuar com suas armas nucleares. Como o presidente americano vai conseguir reverter isso e com quem ele vai lidar – já que o estado de saúde de Kim Jong-il é incerto – são dúvidas que persistem.

China

As relações americanas com a China estão em um momento importante, já que o país é membro permanente do Conselho de Segurança e tem grande influência econômica no mundo.

A China não é um problema direto para os Estados Unidos, mas o futuro de Taiwan e do Tibete são dois assuntos que têm potencial para dividir a relação.

Recentemente, a China preferiu se concentrar no seu desenvolvimento econômico. Enquanto isso continuar assim, as relações com os Estados Unidos devem permanecer estáveis. Não há sinais de que Obama queira fazer qualquer mudança.

Nova diplomacia: finanças, aquecimento global, energia

Diversos temas entram na definição de "nova diplomacia".

A crise financeira vai forçar o próximo presidente a ter uma atitude mais incisiva do que o normal. E ele terá de administrar um mundo com menos influência financeira dos Estados Unidos.

Obama está comprometido com o combate ao aquecimento global. Ele quer reduzir a emissão de gases nocivos ao meio ambiente em 80% até 2050. Este será um dos temas mais importantes do seu governo, já que o Protocolo de Kyoto expira em 2012 e as negociações para estender as metas estão emperradas.

Energia, especialmente petróleo, será outro desafio. Obama prometeu eliminar a dependência americana no Oriente Médio e na Venezuela em dez anos. No entanto, praticamente todos os presidentes americanos vêm dizendo isso desde 1979.

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/11/081105_obama_desafios_dg.shtml

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Sobre o conflito no Congo...

Situação no Congo é 'catastrófica', diz Cruz Vermelha

Os conflitos entre forças rebeldes e o exército na República Democrática do Congo causaram uma “catástrofe humanitária” no país, afirmou o Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

Esforços diplomáticos estão sendo feitos para tentar solucionar a crise, que pode se espalhar pelo país vizinho, Ruanda.

Um cessar-fogo foi declarado pelos rebeldes na última quarta-feira na cidade de Goma, no leste do país, de onde dezenas de milhares de congoleses foram obrigados a se deslocar com o avanço das tropas rebeldes.

Apesar do cessar-fogo, o general rebelde Laurent Nkunda ameaçou tomar a cidade, a menos que as tropas da ONU garantam a trégua.

Assassinatos e estupros foram reportados na cidade e a ajuda humanitária não está chegando aos desabrigados.

Agências de ajuda humanitária como a Oxfam decidiram retirar seus funcionários estrangeiros de Goma.

Michael Khambatta, do Comitê Intenacional da Cruz Vermelha, disse à BBC que a prioridade agora é fornecer comida, remédios, abrigo e alguma forma de segurança aos civis que foram forçados a deixar suas casas.

Cessar-fogo

Na última quarta-feira, depois de dias de combates com as tropas governamentais, o general Nkunda declarou um cessar-fogo e suas tropas ficaram posicionadas a cerca de 15 quilômetros de Goma, capital da província de Kivu do Norte.

Ele prometeu abrir um “corredor humanitário” para que a ajuda possa chegar aos refugiados, que estão entre seus soldados e membros das forças de paz da ONU, que estão dando cobertura às tropas governamentais.

A ONU está considerando reposicionar parte de seus 17 mil soldados no país para dar reforço aos 5 mil homens que estão na cidade.

O general rebelde Nkunda disse à BBC que suas forças pretendem proteger a minoria tutsi do país de ataques de rebeldes hutus de Ruanda, acusados de participarem do genocídio de tutsis no país em 1994.

As tropas de de Nkunda são acusadas de receber apoio do governo de Ruanda, atualmente governada pelos tutsis, o que o país nega.

Analistas afirmam que além das diferenças étnicas, o conflito também se deve à disputa pelas riquezas minerais da região.

Esforços diplomáticos

Nesta quinta-feira, a Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou estar mandando delegados para a República Democrática do Congo e para Ruanda para tentar dar uma solução diplomática para os conflitos que se intensificaram nas últimas semanas.

Os dois países se acusam mutuamente de estarem promovendo incursões além de suas fronteiras.

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, alertou que a violência está criando uma crise de “dimensões catastróficas” no país.

Um dos porta-vozes de Ban disse que delegados estão sendo enviados para Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, e Kigali, em Ruanda.

O ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, também declarou que a União Européia estuda o envio de soldados e ajuda humanitária ao país.

Ele afirmou que o eventual envio de uma força européia pode contar com 1.500 homens, mas eles não participariam dos combates.

Kouchner ainda afirmou que o Comitê de Segurança da União Européia vai se encontrar em Bruxelas para discutir a idéia.

Mas, o que quer que aconteça, o final dos conflitos pode não vir tão rápido quanto necessário, diz o correspondente da BBC Peter Greste, na fronteira da República Democrática do Congo com Ruanda.

Nos dois últimos meses, mais de 200 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas no leste do Congo.

Enquanto muitas procuraram abrigo em Goma, outras se refugiaram nas florestas, onde não podem ser alcançadas pelas milícias. Mas lá, também não podem ser auxiliadas pelas agências humanitárias.

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/10/081031_congo_conflito_cq.shtml
Entenda os confrontos entre governo e rebeldes no Congo

Os confrontos entre tropas da República Democrática do Congo e rebeldes liderados pelo general Laurent Nkunda aumentam o risco de uma crise humana na região.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), até 45 mil pessoas já deixaram campos de internamente deslocados no leste do Congo, fugindo dos rebeldes que estão avançando pela região - que já tem cerca de 1 milhão de deslocados.

As forças rebeldes ameaçam tomar Goma, capital da província de Kivu do Norte e uma das maiores cidades do leste do país.

Os confrontos ganharam força a partir de agosto, quando um acordo de paz assinado entre governo e rebeldes em janeiro foi suspenso.

A BBC responde a algumas perguntas sobre o que motivou os conflitos e quais as possíveis conseqüências.

Por que estão ocorrendo novos confrontos?

Não está claro ainda. O general Nkunda diz que luta para proteger sua etnia, a tutsi, de ataques por parte de rebeldes ruandeses da etnia hutu. Entre esses rebeldes, segundo Nkunda, estariam alguns acusados de participar do genocídio ocorrido em Ruanda em 1994.

No genocído de Ruanda, milícias extremistas hutu e integrantes do Exército ruandês foram acusados de cometer um massacre sistemático de tutsis. Em cem dias, cerca de 800 mil tutsis e hutus moderados foram mortos.

O governo do Congo já prometeu repetidas vezes impedir que milícias hutus utilizem seu território, mas até agora não cumpriu a promessa.

O último prazo para cumprir essa medida expirou no final de agosto, exatamente quando os cofrontos foram retomados.

No entanto, alguns analistas afirmam que os confrontos poderiam ter outro motivo. O leste do Congo é rico em recursos naturais, como ouro, e a luta poderia ser pelo controle dessas riquezas.

O general Nkunda tem apoio de alguém?

O governo do Congo acusa Ruanda de apoiar o general Nkunda com tropas e artilharia pesada.

Ruanda nega essas acusações, apesar de ter invadido o Congo duas vezes nos últimos anos.

O presidente de Ruanda, Paul Kagame, é um ex-rebelde tutsi que participou do fim do genocídio.

O Exército congolês é acusado de colaborar com rebeldes hutus tanto nos confrontos armados como na exploração das minas da região.

Isso leva alguns analistas a afirmar que seria plausível que Ruanda estivesse usando as forças do general Nkunda para pressionar o Congo a cumprir sua promessa de desarmar as milícias hutus.

O que a ONU tem feito em relação ao conflito?

Essa é a pergunta feita por muitos congoleses. A ONU tem uma força de paz de 17 mil soldados no Congo - a maior missão da organização no mundo.

Alguns congoleses acusam a ONU de não fazer nada, e já houve ataques aos escritórios da organização em Goma.

A missão da ONU, porém, enviou helicópteros para ajudar a frear o avanço das forças rebeldes em Goma e pediu reforços para ajudar a pôr fim aos confrontos.

Qual a situação dos civis?

Agentes humanitários estão extremamente preocupados com as dezenas de milhares de pessoas que vivem na área dos conflitos.

Todos os lados são acusados de cometer atrocidades contra civis, principalmente estupros em massa.

Segundo a ONU, até 45 mil pessoas já deixaram campos de internamente deslocados no leste do Congo para fugir dos rebeldes e seguiram para Goma.

Muitas das pessoas que fugiram para Goma são obrigadas a dormir ao ar livre e contam apenas com a ajuda dos habitantes locais e de agências humanitárias para conseguir comida.

A previsão é de que muitos outros sejam afetados pelos confrontos.

A ONU também teme que haja muitas mortes por desnutrição.

Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/10/081030_congoentenda_ac.shtml

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

EUA: crise x eleições

Bem, como os assuntos do momento são a crise norte-americana e as eleições no país, resolvi postar um artigo de Joseph Nye que saiu recentemente no Mundo RI. Na verdade, fora publicado originalmente em 'Project Syndicate'.

Segue, então, o artigo na íntegra:

Crise eleitoral americana
Por Joseph S. Nye* - 24/10/2008

No dia 4 de novembro os americanos irão eleger seu 44º presidente em meio à pior turbulência financeira que o país já enfrentou, desde o início da Grande Depressão, em 1929. Ambos os candidatos são senadores dos Estados Unidos com pouca experiência como executivos, de modo que a capacidade para gerir a crise se tornou o tema central da eleição.

No início da campanha, muitos observadores previram que o Iraque seria o grande tema em 2008. Mas, a crise é o foco. Em princípio, isso está ajudando Barack Obama e os democratas, pois pesquisas apontam mais força para estes nas questões econômicas. Enquanto que o republicano John McCain tem mais peso sobre questões de segurança. Após a convenção republicana, em Setembro, McCain estava à frente nas sondagens. Mas, depois do colapso financeiro Obama assumiu a liderança.

Embora os dois candidatos tenham abraçado os R$ 700 bilhões de socorro para o setor financeiro, os contrastes entre eles são nítidos. Obama não é apenas o primeiro principal candidato afro-americano de um partido, mas também um dos mais jovens candidatos à presidência do EUA. McCain possui experiência como aviador naval e de mais de duas décadas no Senado. Se for eleito, ele será o presidente mais velho a assumir o posto.

Os dois diferem tanto temperamento, como em experiência. McCain é uma pessoa de fortes valores tradicionais, que orgulha-se da sua vontade de agir rápida e decisivamente. Ele agiu assim durante as negociações sobre o socorro financeiro, suspendendo sua campanha para voltar a Washington. Esse esforço parece ter falhado, pois os republicanos que ele conduzia brecaram o pacote.

Mas McCain tem-se mostrado resiliente. Em 2007, muitos desacreditaram na sua campanha, mas ele foi hábil em conseguir a nomeação republicana. Mas, a escolha da Governadora do Alasca, Sarah Palin, como vice-presidente abalou a campanha presidencial.

Obama, excelente orador, mostrou um comportamento frio e calmo em resposta às turbulências financeira e de campanha política. Quando envergonhado por comentários feitos pelo pastor de sua igreja, ele emitiu um excepcional discurso sobre a raça na América.

Mas, ele deve ter cuidado, no entanto, em relação à ao apoio popular nas sondagens eleitorais. Os presidentes americanos são eleitos por um Colégio Eleitoral no qual cada estado possui votos em número proporcional ao número de membros no Congresso. Uma vez que até mesmo os estados mais pequenos possuem dois senadores, isto leva a uma representação irreal.

Vale lembrar que em 2000 Al Gore venceu na votação popular, mas George W. Bush prevaleceu no colégio eleitoral. Assim, os dois candidatos estão com suas campanhas fortemente centradas sobre uma dúzia de estados nos quais os eleitores poderão oscilar, alterando o resultado no colégio eleitoral. Cada campanha está desesperadamente tentando avaliar o impacto da crise financeira sobre esses estados.

Não só o Colégio Eleitoral pode alterar as previsões com base nas sondagens nacionais, mas também existe a possibilidade de surpresas de última hora. Um erro em um debate presidencial pode virar a maré da opinião pública durante a noite, como aconteceu com o presidente Gerald Ford, em seu debate com Jimmy Carter em 1976. Inversamente, a eficiência de Ronald Reagan em seu debate com Carter em 1980 foi importante para sua vitória.

Outro evento que poderia alterar as previsões, seria um "Outubro Surpresa" com fatos associados ao terrorismo. Isso mudaria a ordem do dia da crise financeira para a segurança, deixando os republicanos mais fortes. Em 2004, pouco antes da eleição presidencial, Osama bin Laden divulgou um vídeo que poderia ter ajudado G. W. Bush derrotar o senador John Kerry. Do ponto de vista de política pública, isso auxiliou mais o Bush no recrutamento adeptos do que Kerry poderia ter feito.

Uma pesquisa recente da BBC em 22 países constatou que se o mundo pudesse votar, Obama venceria fácil. A margem pró-Obama foi de 82% no Quênia (onde nasceu o pai de Obama) e 9% na Índia. Mas os americanos não gostam interferência externa nas suas eleições. Quando Obama atraiu uma multidão de 200.000 pessoas para um discurso em Berlim no Verão passado, os republicanos criticaram-no como um elitista, que apela para multidões, mas não para os trabalhadores de colarinho azul em casa.

Por outro lado, em setembro, uma enquete que perguntou aos americanos sobre tarefas para o próximo presidente, 83% votaram em "melhorar a posição dos EUA no mundo", como mais importante. E, sem dúvida, a eleição do primeiro afro-americano como presidente serviria para restaurar o “soft power” que a administração Bush desperdiçou, ao longo dos últimos oito anos.

Há quem se questione se Obama seria tão bom também para o “hard power”. Nesse quesito, vale lembrarmos de Maquiavel: é mais importante para um príncipe ser temido do que ser amado. Maquiavel pode estar correto, mas às vezes esquecemos que o contrário do amor não é medo, mas o ódio. Maquiavel deixou claro que o ódio é algo que um príncipe deve cuidadosamente evitar.

Quando o exercício do “hard power” mina o "soft power", mais difícil se torna a liderança - como Bush descobriu após a invasão do Iraque. Tanto McCain quanto Obama possuem impressionantes habilidades organizacionais e poder político. Caso contrário, eles não chegariam onde estão hoje. Mas quando se trata do "soft power" e competências de inteligência emocional, visão e comunicação, Obama é melhor que McCain.

*Joseph Nye Jr. é professor da Harvard Kennedy School of Government e autor da mais recente obra The Powers to Lead.

Fonte: <http://www.mundori.com/web/view.asp?paNumero=1372>.
Copyright: Project Syndicate, 2008.
www.project-syndicate.org

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A corrida eleitoral entre Obama e McCain: propostas para política comercial


por Felipe Mendonça e Thiago Lima

Diante das eleições presidenciais que se aproximam, uma pergunta emerge: qual o impacto que a conjuntura atual teve e terá na postura dos dois candidatos ao cargo? Mais especificamente, a Política Comercial sofrerá impactos mediante à crise atual e, conseqüentemente, com as políticas que serão adotadas seja quem for o próximo presidente? A reflexão histórica pode nos ajudar na resposta destas perguntas. Do final da Segunda Guerra em diante, a política Comercial dos Estados Unidos sofreu variações diretamente relacionadas, principalmente, a quatro tipos de variáveis: (1) a situação econômica e (2) os arranjos institucionais existentes e (3) as idéias e (4) a política estratégica.

Historicamente nota-se que um desempenho econômico positivo parece facilitar a intensificação de políticas internacionalistas em detrimento de arranjos mais paroquialistas. Por outro lado, com o aprofundamento de crises econômicas, os interesses mais nacionalistas ganham força. Tal constatação nos permite dizer que deteriorações na economia norte-americana tendem a favorecer o adensamento de políticas protecionistas. Tais demandas, em época de crise, são refletidas com mais nitidez no Congresso. Isso acontece porque Capitol Hill é mais permeável aos grupos domésticos. As Instituições também merecem destaque. Estas podem filtrar demandas protecionistas, favorecendo políticas internacionalistas, ou vice-versa. No caso norte-americano, as Instituições sempre enviesaram a Política Comercial para uma vertente mais internacionalista. Contudo, o Congresso, mais suscetível aos movimentos dos grupos de interesse, vem sofrendo nos últimos 50 anos uma gradual corrosão de suas políticas livre-cambistas. Já o Executivo, menos suscetível aos grupos de interesse, tem dado continuidade ao seu programa internacionalista com poucas variações, sem oscilar substancialmente com as alterações de governo.

As idéias também são importantes, embora abstratas e de difícil mensuração. Estas fornecem o mapa cognitivo da interpretação das crises. Enquanto o déficit comercial norte-americano não se mostrava como um problema muito sério nas décadas de 1950 e 1960, as alterações das interpretações do balanço de pagamentos fizeram com que tal tema fosse objeto de debate eleitoral na década de 1970 e principalmente na década de 1980. Atualmente temos visto novas interpretações surgirem nos jornais o debate a cerca da atual crise econômica norte-americana. Analistas de diversos campos divergem nas interpretações do cenário atual e nas projeções futuras. Contudo, o fato de o debate sobre “enfraquecimento do poder americano” ter retornado às manchetes já é suficientemente importante para possíveis alterações nas políticas econômicas dos Estados Unidos, com especial destaque para as políticas de comércio.

Por último, as variações no campo político estratégico permitem correlações com os períodos internacionalista ou nacionalistas. No auge da Guerra Fria, por exemplo, os esforços estavam concentrados nos temas de segurança militar, não havendo muito espaço para reivindicações estritamente comerciais. Com a diminuição do conflito, criaram-se condições para o surgimento do debate em torno de novos temas ligados ao comércio, como serviços, propriedade intelectual e investimentos, assim como para uma postura mais nacionalista. Atualmente, assuntos tais como a Guerra ao Terrorismo, o fornecimento de energia, a imigração e a crise financeira, entre outros, tendem a ofuscar os assuntos de comércioEm suma, a história da política comercial dos Estados Unidos tem demonstrado que quando eleições coincidem com crises econômicas agudas. Além disso, as Instituições, idéias e estratégias não podem ser ignoradas.

Atualmente, o cenário que se esboça nos Estados Unidos nos permite concluir que algumas mudanças devam ocorrer. Embora com um cenário político estratégico desfavorável, a situação econômica deterioridada e com forte apelo popular, as Instituições congressuais cada vez mais permeável aos grupos de pressão, as teses declinistas que se intensificam e ganham cada vez mais espaço na mídia, aliadas ao provável aumento da maioria Democrata no Congresso dos Estados Unidos, deve fornecer a combinação ideal completar parte do impulso rumo a modificações na política comercial.A outra parte virá das propostas do novo chefe do Executivo. Por este motivo, faz-se necessário conhecer as propostas dos presidenciáveis. Observá-las é relevante do ponto de vista brasileiro, pois essa é uma das áreas de maior engajamento de nosso governo nas relações internacionais e qualquer estratégia adotada deve levar em consideração o papel dos Estados Unidos.

A política comercial é um campo em que é possível distinguir com razoável clareza as posições dos dois candidatos. O Republicano John McCain apresenta forte posição em defesa da liberalização comercial, com leves ajustes à maneira como vem sendo conduzida pela administração Bush, enquanto o Democrata Barack Obama mostra grande crítica à tal política. McCain votou a favor de leis de liberalização comercial em 88% dos casos, enquanto o histórico de Obama é de 36%.É preciso destacar que Obama tem um tempo muito mais curto no Legislativo do que seu adversário e um grau maior de abstenção em votações.

O posicionamento de Obama parece muito afinado com a agenda que a maioria do Partido Democrata tem defendido desde o final da Guerra Fria. Para Obama, a política comercial tem integrado os Estados Unidos a uma globalização que não tem produzido benefícios para a classe média e em especial para os trabalhadores menos qualificados. Existem motivos internos e externos para isso. Internamente, alguns setores carecem de competitividade e precisam de auxílio para se ajustar à competição internacional, principalmente no caso de trabalhadores pouco qualificados. No plano externo, algumas práticas de outros países criariam vantagens injustas para aqueles países em detrimento dos Estados Unidos. A principal crítica seria ao mercado de trabalho nos países parceiros que pagam salários considerados muito baixos e que não fornecem ou não possibilitam condições de dignidade para os trabalhadores. Isso baixaria os custos de mão-de-obra nesses países, resultando em desemprego nos Estados Unidos.

Uma outra condição que torna a competição injusta contra os Estados Unidos, segundo os Democratas, são as regras de proteção ao meio ambiente. Estas seriam menos rígidas em outros países, permitindo que empresas operem com menores custos e exportem aos Estados Unidos. Com relação a esses grupos, cabe apontar que a posição não é protecionista, mas sim de atrelar medidas de proteção aos acordos comerciais, ou seja, pode haver apoio à liberalização, desde que acompanhada de regras ambientais mais justas.

No debate norte-americano o posicionamento sobre o NAFTA é bastante significativo. Enquanto McCain se apresenta como um defensor do acordo, Obama o critica veementemente, basicamente pelos motivos aludidos acima, defendendo inclusive a reforma do acordo. No que toca aos trabalhadores deslocados por conta da competição, McCain reconhece que isso é um problema e que a solução pode ser obtida por três vias: a primeira seria reformar o Trade Adjustment Assistance, um programa federal que fornece recursos para treinamento e recolocação de trabalhadores deslocados pela competição internacional, algo que Obama também defende, mas de maneira mais profunda; a segunda seriam os ajustes próprios do mercado, isto é, que setores ineficientes devem deixar de existir, preferencialmente migrando para atividades mais eficientes; a terceira via seria aumentar as exportações, inclusive por meio de acordos de livre-comércio.

Nesse sentido, McCain defende os acordos ratificados durante a administração Bush e a necessidade de um acordo de livre-comércio hemisférico, algo que não é visto nas posições de Obama. As divergências entre os dois senadores candidatos ficam claras quando a discussão é o CAFTA-DR e o acordo com a Colômbia. McCain é favorável aos acordos e Obama é contrário a eles. Adicionalmente, quando os candidatos se posicionam em relação ao acordo com a Colômbia, McCain deixa explícito que a política comercial deve ser utilizada como instrumento de política externa, podendo ser empregada como incentivo ou mesmo recompensa aos aliados políticos. De modo mais geral, McCain propõe a criação de um bloco ou liga democrática em que uma das características seria a liberalização comercial em detrimento dos países não democráticos. Já Obama, pelo menos no que toca à América Latina, argumenta que é preciso diminuir a ênfase na política comercial como meio relacionamento de político com a região.

Na área agrícola, McCain também apresenta uma posição mais forte pela liberalização comercial. O aumento da competição contribuiria para baixar os preços nos Estados Unidos e no exterior, contribuindo para amenizar a crise dos alimentos. No plano interno, a competição contribuiria para selecionar segmentos agrícolas nos quais os norte-americanos conseguem ter eficiência. Nessa mesma linha, McCain é forte crítico dos subsídios agrícolas e votou contra as Farm Bills de 2002 e 2008. Sua principal contestação é que são os grandes produtores que recebem os subsídios e por isso a liberalização deve ser negociada. Obama é protecionista na área agrícola, sendo favorável aos subsídios agrícolas. Votou pela aprovação da Farm Bill de 2008.

No que toca ao etanol, produto que aproxima o tema agrícola do energético, Obama se mostra favorável à eliminação de barreiras ao comércio do produto, mas somente quando a produção nos Estados Unidos for competitiva. Até lá, sobretaxas e subsídios devem vigorar. A posição de McCain é pela eliminação dos subsídios e das barreiras ao comércio do produto.

Sobre propriedade intelectual, Obama argumenta que deve haver flexibilização das regras de propriedade intelectual em casos de saúde pública nos acordos comerciais promovidos pelos Estados Unidos, algo que vai na contra-mão dos esforços norte-americanos da década de 1990 e dos anos 2000 de enrijecer a proteção às patentes farmacêuticas. A modificação do acordo com o Peru nesse sentido foi um dos motivos que atraiu o apoio de Obama à ratificação desse acordo.

Na campanha de Obama consta a proposta de fundar um novo consenso doméstico capaz de tornar os Estados Unidos competitivos no cenário internacional, assim como para viabilizar politicamente a política de comércio internacional. Essa proposta permite dois comentários finais. Primeiro: seria essa proposta o reconhecimento de que os Estados Unidos perderam competitividade sistêmica? Uma resposta afirmativa parece ser exagero, mas questionar a competitividade norte-americana é algo um tanto quanto inusitado. Tradicionalmente o discurso dos altos políticos tem sido que, leveling the playing field, os norte-americanos podem competir com todos e vencer muitos. Segundo: a proposta reconhece a fratura política doméstica e propõe reconciliação. Mas é interessante pensar até que ponto o Democrata poderia ceder sem alienar suas bases em uma sociedade polarizada. A mesma questão se coloca com ainda mais força a McCain, já que a maioria Democrata no Congresso deve aumentar nessas eleições. De todo modo, superar a fratura e recuperar o bipartidarismo é fundamental para o Estado voltar a ser plenamente ativo na política comercial, condição necessária para avanço da Rodada Doha. Doha, OMC, multilateralismo comercial, aliás, foram temas pouco pronunciados pelas campanhas e em baixa profundidade, ao menos no que pudemos notar. Seria esse um daqueles casos em que o silêncio diz as coisas mais relevantes?

Filipe Mendonça é mestrando em Relações Internacionais pelo Programa San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e pesquisador do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC).

Thiago Lima é Mestre em Relações Internacionais pelo Programa San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e pesquisador do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea - CEDEC (thiagomasi@uol.com.br).

Fonte: <http://meridiano47.info/2008/10/11/a-corrida-eleitoral-entre-obama-e-mccain-propostas-para-politica-comercial-por-felipe-mendonca-thiago-lima/#more-418>

O Interesse e a Regra: Ensaios sobre o Multilateralismo


terça-feira, 7 de outubro de 2008

Divulgando...

CEBRI Debate: Segurança Internacional (15/10/2008)

O Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e a Fundação Ford organizarão o CEBRI Debate International Security: even paranoids have enemies, com palestra de Thomas J. Hirschfeld, conceituado analista internacional, com diversas publicações sobre temas globais de desarmamento; e com os comentários de Alfredo Valladão, Diretor da Cátedra Mercosul do Institut d'Études Politiques de Paris (Sciences Po).

Local: Sede do CEBRI, Rua do Russel, 270 - 2º andar - Glória - RJ

Horário: 10h

INSCRIÇÕES: envie nome, empresa, cargo, endereço, telefone, fax, e-mail para eventos@cebri.org.br

INFORMAÇÕES: (21) 2219-4469 / 4462

IDIOMA: Inglês

NOTA: Este evento será replicado em Brasília no dia 14/10, em parceria com a UnB, e em São Paulo no dia 22/10, em parceria com a FAAP, CEAL, iFHC e o IFBEM; maiores informações nos sites das respectivas instituições.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Depois de muito tempo sem postar nada devido a total falta de tempo... segue então o assunto do momento...

Para compreender a crise financeira

Mercados internacionais de crédito entraram em colapso e há risco real de uma corrida devastadora aos bancos. Por que o pacote de 700 bilhões de dólares, nos EUA, chegou tarde e é inadequado. Quais as causas da crise, e sua relação com o capitalismo financeirizado e as desigualdades. Há alternativas?
Antonio Martins

(06/10/2008)
Segunda-feira, 6 de outubro. No momento em que esta nota é redigida, há uma onda de pânico percorrendo o sistema financeiro em todo o mundo. A crise iniciada há pouco mais de um ano, no setor de empréstimos hipotecários dos Estados Unidos, viveu dois repiques, nos últimos dias. Entre 15 e 16 de setembro, a falência de grandes instituições financeiras norte-americanas [1] deixou claro que a devastação não iria ficar restrita ao setor imobiliário. No início de outubro, começou a disseminar-se a sensação de que o pacote de 700 bilhões de dólares montado pela Casa Branca para tentar o resgate produziria efeitos muito limitados. Concebido segundo a lógica dos próprios mercados (o secretário do Tesouro, Henry Paulson, é um ex-executivo-chefe do banco de investimentos Goldman Sachs), o conjunto de medidas socorre com dinheiro público as instituições financeiras mais afetadas, mas não assegura que os recursos irriguem a economia, muito menos protege as famílias endividadas.

Deu-se então um colapso nos mercados bancários, que perdura até o momento. Apavoradas com a onda de falências, as instituições financeiras bloquearam a concessão de empréstimos – inclusive entre si mesmas. Este movimento, por sua vez, multiplicou a sensação de insegurança, corroendo o próprio sentido da palavra crédito, base de todo o sistema. A crise alastrou-se dos Estados Unidos para a Europa. Em dois dias, cinco importantes bancos do Velho Continente naufragaram [2].

Muito rapidamente, o terremoto financeiro começou a atingir também a chamada “economia real”. Por falta de financiamento, as vendas de veículos caíram 27% (comparadas com o ano anterior) em setembro, recuando para o nível mais baixo nos últimos 15 anos. Em 3 de outubro, a General Motors brasileira colocou em férias compulsórias os trabalhadores de duas de suas fábricas (que produzem para exportação), num sinal dos enormes riscos de contágio internacional. Diante do risco de recessão profunda, até os preços do petróleo cederam, caindo neste 6/10 a 90 dólares por barril – uma baixa de 10% em apenas uma semana. A tempestade afeta também o setor público. Ao longo da semana, os governantes de diversos condados norte-americanos mostraram-se intranqüilos diante da falta de caixa. O governador da poderosa Califórnia, Arnold Schwazenegger, anunciou em 2 de outubro que não poderia fazer frente ao pagamento de policiais e bombeiros se não obtivesse, do governo federal, um empréstimo imediato de ao menos 7 bilhões de dólares.

[...]

Nos últimos dias, alastrou-se o pavor de algo nunca visto, desde 1929: desconfiados da solidez dos bancos, os correntistas poderiam sacar seus depósitos, o que provocaria nova onda de quebras e devastaria a confiança na própria moeda. Em tempos de globalização, seria “a mãe de todas as corridas contra os bancos”, segundo a descreveu o economista Nouriel Roubini, que se tornou conhecido por prever há meses, com notável precisão, todos os desdobramentos da crise atual.

Os primeiros sinais deste enorme desastre já estão visíveis. Em 2 de outubro, o Banco Central (BC) da Irlanda sentiu-se forçado a tranqüilizar o público, anunciando aumento no seguro estatal sobre 100% dos depósitos confiados a seis bancos. Na noite de domingo, foi a vez de o governo alemão tomar atitude semelhante. Mas as medidas foram tomadas de modo descoordenado, porque terminou sem resultados concretos, no fim-de-semana, uma reunião dos “quatro grandes” europeus [3], convocada pelo presidente francês, para buscar ações comuns contra a crise. Teme-se, por isso, que as iniciativas da Irlanda e Alemanha provoquem pressão contra os bancos dos demais países europeus, onde não há a mesma garantia. Além disso, suspeita-se que as autoridades estejam passando um cheque sem fundos. Na Irlanda, o valor total do seguro oferecido pelo BC equivale a mais do dobro do PIB do país...

Também neste caso, os riscos de contágio internacional são enormes. Roubini chama atenção, em especial, para as linhas de crédito no valor de quase 1 trilhão de dólares entre os bancos norte-americanos e instituições de outros países. É por meio deste canal, hoje bloqueado, que o risco de quebradeira bancária se espalha pelo mundo. Mesmo em países menos próximos do epicentro da crise, como o Brasil, as conseqüências já são sentidas. Na semana passada, o Banco Central viu-se obrigado a estimular os grandes bancos, por meio de duas resoluções sucessivas, a comprar as carteiras de crédito dos médios e pequenos – que já enfrentam dificuldades para captar recursos.

Em conseqüência de tantas tensões, as bolsas de valores da Ásia e Europa estão vivendo, hoje (6/10), mais um dia de quedas abruptas. Na primeira sessão após a aprovação do pacote de resgate norte-americano, Tóquio perdeu 4,2% e Hong Kong, 3,4%. Quedas entre 7% e 9% ocorreram também em Londres, Paris e Frankfurt. Em Moscou, a bolsa despencou 19%. Em todos estes casos, as quedas foram puxadas pelo desabamento das ações de bancos importantes. Em São Paulo, onde o pregão ainda está em andamento, os negócios foram interrompidos duas vezes, quando quedas drásticas acionaram as regras que mandam suspender os negócios em caso de instabilidade extrema. Apesar da intervenção do Banco Central, o dólar acumulava alta de mais de 5% às 13h, subindo a R$ 2,13.

[...]

A esta altura, todas as análises sérias coincidem em que não é possível prever nem a duração, nem a profundidade, nem as conseqüências da crise. Nos próximos meses, vai se abrir um período de fortes turbulências: econômicas, sociais e políticas. As montanhas de dinheiro despejadas pelos bancos centrais sepultaram, em poucas semanas, um dogma cultuado pelos teóricos neoliberais durante três décadas. Como argumentar, agora, que os mercados são capazes de se auto-regular, e que toda intervenção estatal sobre eles é contra-producente?

Mas, há uma imensa distância entre a queda do dogma e a construção de políticas de sentido inverso. Até o momento, tem prevalecido, entre os governos, uma postura um tanto curiosa: eles abandonam às pressas o discurso da excelência dos mercados, apenas para... desviar rios de dinheiro público às instituições dominantes destes mesmos mercados.

O pacote de 700 bilhões de dólares costurado pela Casa Branca é o exemplo mais acabado deste viés. Nouriel Roubini considerou-o não apenas “injusto”, mas também “ineficaz e ineficiente”. Injusto porque socializa prejuízos, oferecendo dinheiro às instituições financeiras (ao permitir que o Estado assuma seus “títulos podres”) sem assumir, em troca, parte de seu capital. Ineficaz porque, ao não oferecer ajuda às famílias endividadas — e ameaçadas de perder seus imóveis —, deixa intocada a causa do problema (o empobrecimento e perda de capacidade aquisitiva da população), atuando apenas sobre seus efeitos superficiais. Ineficiente porque nada assegura (como estão demonstrando os fatos dos últimos dias) que os bancos, recapitalizados em meio à crise, disponham-se a reabrir as torneiras de crédito que poderiam irrigar a economia. Num artigo para o Financial Times (reproduzido pela Folha de São Paulo), até mesmo o mega-investidor George Soros defendeu ponto-de-vista muito semelhantes, e chegou a desenhar as bases de um plano alternativo.

Outras análises vão além. Num texto publicado há alguns meses no Le Monde Diplomatique, o economista francês François Chesnais chama atenção para algo mais profundo por trás da financeirização e do culto à auto-suficiência dos mercados. Ele mostra que as décadas neoliberais foram marcadas por um enorme aumento na acumulação capitalista e nas desigualdades internacionais. Fenômenos como a automação, a deslocalização das empresas (para países e regiões onde os salários e direitos sociais são mais deprimidos) e a emergência da China e Índia como grandes centros produtivos rebaixaram o poder relativo de compra dos salários. O movimento aprofundou-se quando o mundo empresarial passou a ser regido pela chamada “ditadura dos acionistas”, que leva os administradores a perseguir taxas de lucros cada vez mais altas. O resultado é um enorme abismo entre a a capacidade de produção da economia e o poder de compra das sociedades. Na base da crise financeira estaria, portanto, uma crise de superprodução semelhante às que foram estudadas por Marx, no século retrasado. Ao liquidar os mecanismos de regulação dos mercados e redistribuição de renda introduzidos após a crise de 1929, o capitalismo neoliberal teria reinvocado o fantasma.

Wallerstein vê nos sistemas públicos de Saúde, Educação e Previdência algo que pode ser multiplicado, e que gera relações sociais anti-sistêmicas. Se todos tivermos direito a uma vida digna, quem se preocupará em acumular dinheiro?

Marx via nas crises financeiras os momentos dramáticos em que o proletariado reuniria forças para conquistar o poder e iniciar a construção do socialismo. Tal perspectiva parece distante, 125 anos após sua morte. A China, que se converteu na grande fábrica do mundo, é governada por um partido comunista. Mas, longe de ameaçarem o capitalismo, tanto os dirigentes quanto o proletariado chinês empenham-se em conquistar um lugar ao sol, na luta por poder e riqueza que a lógica do sistema estimula permanentemente.

Ao invés de disputar poder e riqueza com os capitalistas, não será possível desafiar sua lógica? O sociólogo Immanuel Wallerstein, uma espécie de profeta do declínio norte-americano, defendeu esta hipótese corajosamente no Fórum Social Mundial de 2003 - quando George Bush preparava-se para invadir o Iraque e muitos acreditavam na perenidade do poder imperial dos EUA. Em outro artigo, publicado recentemente no Le Monde Diplomatique Brasil, Wallerstein sugere que a crise tornará o futuro imediato turbulento e perigoso. Mas destaca que certas conquistas sociais das últimas décadas criaram uma perspectiva de democracia ampliada, algo que pode servir de inspiração para caminhar politicamente em meio às tempestades. Refere-se à noção segundo a qual os direitos sociais são um valor mais importante que os lucros e a acumulação privada de riquezas. Vê nos sistemas públicos (e, em muitos países, igualitários) de Saúde, Educação e Previdência algo que pode ser multiplicado, e que gera relações sociais anti-sistêmicas. Se a lógica da garantia universal a uma vida digna puder ser ampliada incessantemente; se todos tivermos direito, por exemplo, a viajar pelo mundo, a sermos produtores culturais independentes e a terapias (anti-)psicanalíticas, quem se preocupará em acumular dinheiro?

O neoliberalismo foi possível porque, no pós-II Guerra, certos pensadores atreveram-se a desafiar os paradigmas reinantes e a pensar uma contra-utopia. Num tempo em que o capitalismo, sob ameaça, estava disposto a fazer grandes concessões, intelectuais como o austríaco Friederich Hayek articularam, na chamada Sociedade Mont Pelerin, a reafirmação dos valores do sistema [4]. Seus objetivos parecem hoje desprezíveis, mas sua coragem foi admirável. Eles demonstraram que há espaço, em todas as épocas, para enfrentar as certezas em vigor e pensar futuros alternativos. Não será o momento de construir um novo pós-capitalismo?

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[
1] Em 12/9, o banco de investimentos Lehman Brothers quebrou, depois que as autoridades monetárias recusaram-se a resgatá-lo. No mesmo dia, o Merrill Lynch anunciou sua venda para o Bank of America. Em 15/9, a mega-seguradora AIG (a maior do mundo, até há alguns meses) anunciou que estava insolvente, sendo nacionalizada no dia seguinte com aporte estatal de US$ 85 bilhões
[
2] O Fortis foi semi-nacionalizado pelos governos da Holanda, Bélgica e Luxemburgo. O Dexia recebeu uma injeção de 6,4 bilhões de euros, patrocinada pelos governos da França e Bélgica. O Reino Unido nacionalizou o Bradford & Bingley (especialista em hipotecas), vendendo parte de seus ativos para o espanhol Santander. O Hypo Real Estate segundo maior banco hipotecário alemão entrou numa operação de resgate cujo custo podia chegar a 50 bilhões de euros, mas cujo sucesso ainda não estava assegurado, em 5/9. A Islândia nacionalizou o Glitnir, seu terceiro maior banco
[
3] Alemanha, França, Reino Unido e Itália, os membros europeus do G-8
[
4] Sobre a contra-utopia hayekiana, ler, no Le Monde Diplomatique, “Pensando o Impensável” , de Serge Halimi

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Fonte: <http://diplo.uol.com.br/2008-10,a2623>

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Rússia na CIJ


Geórgia processará Rússia por limpeza étnica

Ter, 12 Ago, 02h28
Por Margarita Antidze


TBILISI (Reuters) - A Geórgia entrou com um processo contra a Rússia na Corte Internacional de Justiça por limpeza étnica, disse nesta terça-feira o secretário do Conselho de Segurança da Geórgia, Kakha Lomaia.

Separadamente, o promotor chefe do Tribunal Penal Internacional (TPI) Luis Moreno-Ocampo afirmou que ele tem sido procurado sobre o conflito na região separatista de Ossétia do Sul na Geórgia e pode lançar uma investigação preliminar.

A Corte Internacional de Justiça regula os conflitos entre nações enquanto que o Tribunal Penal Internacional (TPI) foi organizado para julgar indivíduos por crimes graves como genocídio, crimes contra a humanidades e crimes de guerra. Ambas as cortes são sediadas em Haia na Holanda.

"Hoje o embaixador da Geórgia na Holanda entrou com um processo na Corte Internacional de Justiça chamado 'o Estado da Geórgia contra o Estado da Rússia' por conta de suposta limpeza étnica conduzida pela Rússia na Geórgia entre 1993 e 2008", disse o secretário à Reuters.

O conflito teve início na última quinta-feira quando a Geórgia enviou suas tropas para retomar o controle da Ossétia do Sul, uma província pró-Rússia que rejeitou o poder georgiano nos anos 1990.

Moscou respondeu enviando tropas fortemente armadas, que rapidamente superaram os soldados georgianos.

A Rússia afirma que 1.600 civis da Ossétia do Sul foram mortos, enquanto que a Geórgia divulgou 200 mortes e centenas de feridos. Nenhum dos números foram confirmados independentemente.

A Organização das Nações Unidos afirmou nesta terça-feira que aproximadamente 100 mil pessoas estão fugindo de suas casas.

"Nós começamos a receber notícias sobre isto", disse Moreno-Ocampo à Reuters por telefone de Haia.

Questionado se iria lançar uma investigação preliminar, ele respondeu: "É possível." Ele não deu mais detalhes.

O TPI foi criado para julgar genocídios e outros crimes de guerra quando autoridades judiciais nacionais não consegue investigar tais crimes apropriadamente.

Moreno-Ocampo casou uma discussão diplomática internacional no último mês quando pediu aos juízes da corte um mandato de prisão para o presidente do Sudão, Omar Hassan al-Bahshir pelo genocídio e crimes de guerra na região de Darfur.

Fonte: <http://br.noticias.yahoo.com/s/reuters/manchetes_georgia_exclusivo_processo_pol>

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Entenda o conflito envolvendo Rússia e Geórgia na Ossétia do Sul

.............................................A escalada das tensões entre a Geórgia e os separatistas da região de Ossétia do Sul evoluiu para violentos comba- tes nos últimos dias e o envolvimento da Rússia, que enviou tanques para a região em apoio aos rebeldes, susci- tou temores de uma guerra na volátil região do Cáucaso.

A administração separatista da Ossétia do Sul vem tentando obter reconhecimento desde que declarou a sua independência do governo central, após uma guerra civil nos anos 90.

A Rússia tem uma força de paz na região, mas o governo de Moscou também apóia os separatistas.


A BBC preparou uma série de perguntas e respostas que explicam os principais pontos da crise:

Qual é o atual status da Ossétia do Sul?

A Ossétia do Sul tem tido um governo próprio desde que lutou com a Geórgia pela sua independência em 91 e 92, logo após o colapso da União Soviética.

Durante o conflito, a região declarou sua independência, mas ela não foi reconhecida por nenhum país.

O presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, prometeu colocar a Ossétia do Sul e outra região separatista, a Abecásia, sob controle da Geórgia.

Por que os ossetianos querem se separar?

Os ossetianos são uma etnia originária das planícies russas ao sul do Rio Don. Eles têm identidade e cultura diferentes da dos georgianos e uma língua própria.

No século 13, as invasões mongóis empurraram a etnia para as montanhas do Cáucaso, e os ossetianos se estabeleceram ao longo da atual fronteira da Geórgia com a Rússia.

Os ossetianos do sul querem se juntar à Ossétia do Norte, que é uma república autônoma dentro da Federação Russa.

Os georgianos são uma minoria na Ossétia do Sul, representando menos de um terço da população.

A Geórgia rejeita o nome Ossétia do Sul, preferindo chamar a região pelo nome antigo, Samachablo, ou Tskhinvali, a principal cidade da região.

O que detonou esta crise?

As tensões vinham aumentando desde a eleição do presidente Saakashvili em 2004. Ele ofereceu à Ossétia do Sul diálogo e autonomia, mas no contexto de um só Estado, o da Geórgia.

Em 2006, os ossetianos do sul votaram em um referendo extra-oficial em uma tentativa de fazer pressão pela independência completa, e segundo as autoridades da Ossétia, a maioria esmagadora da população o fim da união com Tblisi.

Em abril de 2008, a Otan disse que a Geórgia poderia no futuro vir a ser um membro da aliança militar - o que irritou a Rússia, que se opõe à expansão da Otan para o leste. Semanas depois, a Rússia reforçou os seus laços com as regiões de Ossétia do Sul e Abecásia.

Em julho a Rússia admitiu que seus caças entraram no espaço aéreo da Geórgia, na região da Ossétia do Sul. Confrontos antes esporádicos se escalaram, até que, segundo informações não confirmadas, seis pessoas acabaram mortas por projéteis de forças georgianas.

A Rússia poderia se envolver diretamente numa guerra?

A Rússia insiste que tem agido como uma força de paz na Ossétia do Sul e nega as acusações de que vem fornecendo armas aos separatistas.

No entanto, Moscou já prometeu defender os cerca de 70 mil cidadãos russos que vivem na Ossétia do Sul.

A Rússia pode interpretar uma intervenção militar como uma opção menos arriscada do que reconhecer a independência da Ossétia do Sul, o que poderia levar a uma guerra com a Geórgia.

As ligações da Geórgia com a Otan podem influenciar este conflito?

O presidente Saakashvili fez da entrada na Otan uma de suas prioridades. A Geórgia tem um relacionamento próximo com os Estados Unidos e vem cultivando vínculos com a Europa Ocidental.

Há quem diga que Saakashvili espere levar a Otan a um conflito com Moscou, de forma a formalizar a aliança.

Mas analistas dizem que é difícil imaginar que a Otan se deixe arrastar para um conflito com a Rússia por causa da Geórgia, depois de ter se esforçado para evitá-lo por tanto tempo.

Fonte:<http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/08/080808_entenda_ossetia_cg.shtml>

Rússia: KGB de volta ou tentativa de liderança pela guerra?


Recebi hoje o informativo Mundo RI, dentre vários artigos, escolhi esse que trata do conflito entre a Rússia e Geórgia sobre a questão da Ossétia do Sul.

No entanto, vale a pena acessar a página do Mundo RI e dar uma lida nos demais artigos.


Rússia: KGB de volta ou tentativa de liderança pela guerra?
Fábio Pereira Ribeiro - 11/8/2008

A guerra nunca é bem vista. Alguns teóricos afirmam que a mesma é feita para a Paz. Mas o que pensar da nova guerra da Rússia com a Geórgia? Questões territoriais? Guerra contra o terrorismo ou ações contras-guerrilhas? Ou mostrar para o mundo que a Rússia ainda não perdeu sua força?

Vladimir Putin como primeiro ministro, diz o que fazer: “a guerra já começou”. A partir daí já é previsto o novo ar de KGB estar de volta.

O grande problema é o processo separatista em vigor da região de Ossétia do Sul na Geórgia. A busca pela independência e as aspirações de poder sobre ponto estratégico do Cáucaso são motes principais para o conflito, e um prato cheio para as percepções ditatoriais da Rússia neste momento, onde a balança internacional está pendendo para vários lados.

Todo o conflito está expondo as diversas linhas de conflito da Rússia com a Geórgia, mas ao mesmo tempo é uma grande oportunidade de mostrar ao mundo que a Rússia ainda tem um pensamento militar de conquista, uma busca pela guerra ou conflito de conquista.

Na Geórgia muitos se preocupam com um movimento intenso de tropas russas, e principalmente em uma limpeza étnica. Isso tudo é preocupante, pois acabamos de ver um ditador preso, e ao mesmo tempo uma potência utilizar os mesmos princípios. E isso tudo leva a mobilização total de um país preocupado com esta questão.

O problema maior deste tríplice conflito é a estrutura de apoio russo sobre as ações dos separatistas, inclusive com centenas de agentes de inteligência para desestabilizar a estrutura de poder da Geórgia.

O presidente russo, Dmitri Medvedev afirma como se fosse um protetor da região, que a guerra leva a uma percepção de que a Rússia será uma eterna protetora do Cáucaso.

A realidade é uma só, o conflito gera dúvidas em todos os sentidos. O próprio Conselho de Segurança da ONU, que desaprova o ataque, mas ao mesmo tempo dá condições para atuações em operações secretas dos serviços de inteligência da Rússia sobre a Geórgia, e principalmente ao patrocínio de ações guerrilheiras.

Os interesses de Putin sobressaem os valores de Paz que qualquer país quer, e ao mesmo tempo o mundo busca. E só falta voltar o terror da KGB sobre todo continente.



RIBEIRO, Fábio Pereira. Rússia: KGB de volta ou tentativa de liderança pela guerra? Newsletter Mundo RI, [S.l], ago. 2008. Disponivel em: <http://www.mundori.com/web/view.asp?paNumero=1332>. Acesso em: 11 ago 2008.

domingo, 10 de agosto de 2008

Enquanto isso na China...

'Várias explosões' atingem província chinesa de Xinjiang

Várias explosões atingiram a província chinesa de Xinjiang, no noroeste do país, segundo a agência estatal chinesa Xinhua.

As explosões ocorreram pouco antes das 4h da manhã locais (17h em Brasília) em Kuga, no sul da província, afirmou a agência.

Em seguida houve troca de tiros, mas não foram registradas vítimas fatais, acrescentou a Xinhua.

Xinjiang é a província onde, no início da semana, 16 policiais chineses foram mortos no ataque a um posto de fronteira.

A região é habitada pelos Uighur, população muçulmana na qual um braço separatista há décadas encampa uma luta de baixo perfil contra a autoridade chinesa.

No passado, a China já chamou atenção para o que qualificou de ameaças terroristas de grupos islâmicos em Xinjiang, sem oferecer evidências para comprovar seu receio.

O incidente ocorre um dia após a abertura oficial dos Jogos Olímpicos, em Pequim.

Fonte: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/08/080809_china_xinjinag_pu.shtml>

Os poucos leitores do blog, se é que existe algum, podem estar achando estranho esse tipo de post, mas achei interessante porque nunca havia escutado falar em "ameaças terroristas de grupos islâmicos" na China. Não que não soubesse da existência de população muçulmana na região, mas terrorismo vindo desse "grupo" para mim é uma novidade.

sábado, 2 de agosto de 2008

Mesa redonda: A agenda comercial brasileira pós-Doha

A Rodada Doha foi tema da maioria das minhas postagens até então, e a pergunta que veio em mente após o colapso das negociações em Genebra foi: "E agora, Amorim?" rs

Eis então que recebo um convite, em minha caixa de entrada, do CEBRI para a mesa redonda: A agenda comercial brasileira pós-Doha.

E a primeira explanação ao ler a mensagem é:

SANTO CEBRI!!!

O que seria de nos estundantes de RI se não fosse "você"?


Bem brincadeiras a parte, vamos ao que interessa:


O Centro Brasileiro de Relações Internacionais – CEBRI e o Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento - CINDES têm a satisfação de convidá-lo (a) para a mesa-redonda:


A Agenda Comercial Brasileira Pós-Doha

As negociações multilaterais entraram em colapso e há incertezas sobre em quanto tempo poderão ser retomadas.


· Que desafios os cenários pós-Doha colocam para a política comercial brasileira?
· Os acordos bilaterais são a alternativa para o Brasil?
· Que novos temas deverão ser incorporados às agendas de negociação?


Alfredo Valladão
Professor do Institut d'Études Politiques de Paris (Sciences Po), onde dirige a Cátedra Mercosul. Pesquisador Sênior Associado no Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais (IEEI - Lisboa). Jornalista especializado em política internacional, contribui regularmente para a Rádio Franca Internacional, BBC e CBN. Foi correspondente diplomático e na área de Defesa para o diário Libération (França). É membro do Conselho Editorial das revistas Questions Internationales (França) e Res-Publica (Portugal). É fundador e ex-membro do Conselho Editorial do Anuário l'Etat du Monde (França) e autor de vários livros sobre política internacional e de documentários para redes de televisão francesas.

Lia Valls
Bacharel em Ciências Econômicas , PUC-RJ, 1975. M .Phil em Economia, Cambridge University, 1980. Doutorado em Economia, Instituto de Economia/UFRJ, 1998. Professora Adjunta da Fac. de Ciências Econômicas da UERJ e coordenadora do Centro de Estudos de Comércio Exterior do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas.

Luiz Felipe Lampreia
O Embaixador Lampreia serviu como Embaixador do Brasil em Portugal (1990-1992) e na Suiça (1993-1994). Entre 1995 e 2001 foi Ministro das Relações Exteriores do Brasil. É Vice-Presidente Nato do Conselho Curador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais - CEBRI, assim como Presidente do Conselho de Relações Internacionais da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro - FIRJAN. Ele também atua como consultor para a Petrobrás.

Sandra Rios
Sandra Polónia Rios é diretora do CINDES, sócia da EcoStrat Consultores e especialista em temas relacionados a negociações comerciais internacionais e a política de comércio exterior. Atua como consultora permanente da Confederação Nacional da Indústria, sendo responsável pela coordenação técnica da Coalizão Empresarial Brasileira. Integrante da Lista Indicativa de Panelistas da OMC, por proposição do Governo brasileiro, aprovada pelo Órgão de Solução de Controvérsias da Organização, é coordenadora do grupo de acesso a mercados do Foro Empresarial Mercosul – União Européia. Membro do Conselho Superior da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior, FUNCEX e faz parte do corpo docente da Fundação Dom Cabral. É professora licenciada do Departamento de Economia da PUC-RJ.


DATA: 06 de agosto de 2008, Quarta-feira, às 15h00

LOCAL: CEBRI –Rua do Russel 270 – 2º andar – Glória – Rio de Janeiro


• INSCRIÇÃO: nome, instituição, cargo, endereço, telefone, fax, e-mail para:
http://br.mc328.mail.yahoo.com/mc/compose?to=eventos@cebri.org.br
• INFORMAÇÕES: (21) 2219-4469 – Elizabeth Jubé ou Rafael Costa

Veja a programação completa de eventos: http://www.cebri.org.br/

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Divulgando...

Mesa-Redonda: Estados Unidos - América Latina

O CEBRI e o Consulado Geral dos EUA no Rio de Janeiro organizarão a mesa-redonda "A Relação Estados Unidos - América Latina: segurança regional e política energética ", que contará com a palestra do Embaixador Jeffrey Davidow, Presidente do importante think tank americano com sede na Califórnia Institute of the Americas , e com os comentários do Embaixador Marcos de Azambuja , Vice-Presidente do CEBRI, e de Demétrio Magnoli, professor e integrante do Grupo de Análises de Conjuntura Internacional (Gacint) da Universidade de São Paulo (USP).

O debate abordará as relações políticas com o continente, com foco nas questões de segurança em Venezuela, Bolívia, Colômbia e Equador; bem como os subsídios e tarifas para o etanol, matriz e segurança energética.

Participarão da cerimônia de abertura o Embaixador José Botafogo Gonçalves, Presidente do CEBRI, Elizabeth Lee Martinez, Cônsul Geral dos EUA no Rio de Janeiro, e Camille Richardson, Cônsul Comercial dos EUA no Rio de Janeiro.

Maiores informações no site do CEBRI : <http://www.cebri.org.br/>

E agora?!?

Depois do fracasso em Doha...

Apesar de não ter postado mais nada sobre a tão famosa Rodada, que serviu de tema para a maioria dos posts do blog em questão, acredito que os poucos leitores que o lêem já sabem do fracasso da mesma.

Não cabe aqui agora atribuir “culpados”, ou não, a esse fracasso, quem quiser mais notícias sobre os impasses basta procurar noticias em sites como BBC Brasil / Agencia Brasil, ou qualquer outro site de notícias, pois artigos não faltam a respeito do assunto, uns até bem interessantes.

A reflexão agora é: o que fazer após o fracasso da rodada. Buscar acordos unilaterais? Buscar o fortalecimento do Mercosul ou das relações SUL-SUL? (Sabe-se que isso é algo que vêem se buscado com certa “veemência” pela diplomacia brasileira)

Será que o fato do Brasil ter sido a favor do acordo proposto, e ter sido considerado por alguns, o que eu particularmente acho um erro, como “traidor” do G-20, irá prejudicar agora acordos com esses países do grupo?

Será que isso irá de alguma forma atrapalhar a atuação do Brasil no Mercosul, como dizem alguns?

Sinceramente, espero que não.

Mas não estou aqui para dizer o que vai acontecer ou não, só estou aqui com minhas divagações acerca do tema e talvez poder discutir com os meus poucos leitores o assunto em questão.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Corra, Doha, corra...

Como já puderam perceber, tenho acompanhado as notícias que têm saído na web sobre a Rodada Doha, com um olhar atento e curioso sobre qual será o desfecho da rodada, cuja previsão de término era para o ano de 2005.

Em meio a minha "navegação", achei um post publicado em um blog com um artigo muito interessante e por isso resolvi (re)postá-lo aqui.

Sem mais... segue o post então que dá o que pensar...

Corra, Doha, corra...

Os representantes dos países-membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) tentam, ou fingem tentar, um acordo sobre comércio agrícola, serviços e redução de barreiras a produtos industriais. A assimetria de interesses e a crise sistêmica do capitalismo não deixam qualquer sombra de dúvida: aos países periféricos só resta resistir ou capitular. A análise é de Gilson Caroni Filho.

Gilson Caroni Filho

Uma mesma história contada três vezes, com desenlaces diferentes, pode ser uma obra de arte. É o caso de “Corra, Lola, Corra", filme alemão dirigido por Tom Tykwer, onde não faltam roteiro engenhoso e uma corajosa linguagem cinematográfica. Dependendo da combinação de possibilidades, o desfecho pode ser feliz ou não. Estamos diante de uma alegoria da vida.

Em Genebra, o enredo é distinto. Os representantes dos países-membros da OMC ( Organização Mundial do Comércio) tentam, ou fingem tentar, um acordo sobre comércio agrícola, serviços e redução de barreiras a produtos industriais. Ao contrário da obra-prima de Tykwer não existem possibilidades de final feliz. A assimetria de interesses e a crise sistêmica do capitalismo não deixam qualquer sombra de dúvida: aos países periféricos só resta resistir ou capitular.

No caso brasileiro, reduzir tarifas de importação, ainda mais com câmbio apreciado, só prejudicaria setores industriais com uso intensivo de mão de obra ou baixo coeficiente de importação na sua estrutura produtiva. Ao contrário do que apregoam os que rezam pelo credo liberal, uma redução tarifária em nada forçaria uma maior competitividade ou modernização da indústria nativa. Se somarmos a isso, as concessões pretendidas pelos Estados Unidos na área de serviços, o êxito de Doha seria uma recolonização impensável.

Podemos concordar ou não com Immanuel Wallerstein quando ele afirma que o capitalismo vive tensões estruturais com as quais já não consegue lidar, mas as evidências empíricas sugerem mais atenção às suas teses. Três aumentos indicam que o processo acumulativo vive uma crise sistêmica: o dos custos salariais em função da desruralização, a elevação dos preços de matérias-primas, como decorrência do esgotamento ecológico, e a inevitabilidade do crescimento da carga tributária em escala mundial.

Nesse contexto, as margens de manobra em Genebra são nulas. Pode-se usar o deslize do chanceler Celso Amorim como pretexto para o impasse. Estampar em manchetes que "menção ao nazismo atrapalha negociação crucial de comércio", mas o fato é que, defendidos interesses soberanos, esse é um encontro natimorto. O que é ótimo.

A rigor, o único prejudicado com o fracasso da Rodada de Doha é o agronegócio, setor que se notabiliza por concentrar renda e pelos danos ambientais impostos à população pobre do campo. Como destacou o secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, "a ênfase no modelo agroexportador torna o Brasil vulnerável no mercado internacional, dependente de produtos de baixo valor agregado e cujos preços oscilam muito a cada ano". É esse o projeto "estruturante" que queremos?

Do ponto de vista da geração de empregos e da produção de alimentos para o mercado interno, a ausência de acordo em Genebra é irrelevante. Mas parece que o mais propício, no momento, é buscar crescimento do comércio exterior com outros países em desenvolvimento. Mais que nunca fortalecer o Mercosul e estreitar laços com África do Sul, Índia e China.

Ninguém discute a importância da OMC e o papel do multilateralismo em todas as esferas do mundo atual, mas aos que defendem uma minimização do papel do Estado como forma de ampliar o livre comércio entre empresas de todo o mundo, a advertência do economista John Gray deve ser repetida à exaustão.

"Tanto na teoria quanto na prática, o efeito da mobilidade total do capital é anular a doutrina ricardiana da vantagem comparativa". Não é hora de vender soja para comprar trator.

Fonte: Agência Carta Maior.

Disponível em: <http://blogdeumsem-mdia.blogspot.com/2008/07/artigo-corra-dohacorra.html>

Polêmica em Doha...

Polêmica sobre salvaguarda põe em risco acordo da Rodada Doha

Márcia Bizzotto
Enviada especial da BBC Brasil a Genebra

A falta de consenso sobre um mecanismo de salvaguarda que permitiria aos países em desenvolvimento subir tarifas aduaneiras para se proteger de um surto de importações que possa prejudicar sua segurança alimentar é o ponto crucial que está ameaçando o acordo da Rodada Doha em Genebra.

Com o clima de pessimismo e a guerra de acusações que toma conta da sede da Organização Mundial do Comércio (OMC), diplomatas envolvidos nas negociações acreditam que o fracasso da Rodada Doha pode ser declarado na noite desta segunda-feira.

"Estamos por um fio. Agora realmente estamos em um momento crítico", afirmou o negociador de um dos sete principais lados envolvidos na negociação (Brasil, Índia, Estados Unidos, China, Austrália, Japão e a União Européia), que pediu para não ser identificado.

Segundo ele, apenas quatro envolvidos na negociação realmente aceitam o pacote apresentado na última sexta-feira pelo diretor-geral da OMC, Pascal Lamy: Brasil, União Européia, Estados Unidos e Austrália.

Diferenças

Países cuja economia está baseada na exportação de poucos produtos agrícolas reclamam que o tipo de flexibilidade previsto no chamado mecanismo de salvaguarda especial lhes faria perder qualquer benefício que poderiam ter com a liberalização global do comércio.

Segundo o texto atual, um país poderia subir suas tarifas em até 15% quando a média das importações de alimentos aumentarem 40%. Mas Índia, China e outros 80 países de economias vulneráveis defendem que as salvaguardas possam ser acionadas quando as importações subirem 10%.

Para Paraguai e Uruguai, mesmo um gatilho de 10% já colocaria em risco o crescimento de suas exportações. Os países também defendem que o remédio de 15% seria em muitos casos mais elevado que as tarifas atuais, um argumento compartilhado pelo Brasil.

"O Paraguai não pode hipotecar seu futuro aceitando um custo como este. Não é possível que paguemos o preço de uma abertura que beneficiará os países mais ricos". Rigoberto Gauto, embaixador do Paraguai na OMC.

"Não exportamos minerais, não exportamos máquinas. Exportamos agricultura. Temos muito poucos produtos de exportação e nossos mercados emergentes são os países em desenvolvimento", justificou o embaixador do Uruguai na OMC, Guillermo Valles.

Uruguai uniu forças com Paraguai para se impor contra a facilitação da aplicação das salvaguardas.

"O Paraguai não pode hipotecar seu futuro aceitando um custo como este. Não é possível que paguemos o preço de uma abertura que beneficiará os países mais ricos", defendeu o embaixador do Paraguai na OMC, Rigoberto Gauto.

Em entrevista coletiva na sede da instituição, ambos os embaixadores afirmaram que seus países não aceitarão o acordo como o que está atualmente no papel.

Inflexibilidade

Em uma reunião privada com um grupo de jornalistas, fontes diplomáticas afirmaram que as posições são radicais e nenhum lado se mostra disposto a ceder.

"A Índia vai impedir a rodada se não buscarmos uma solução", afirmou o negociador.

Ao mesmo tempo, o embaixador da China para a OMC, Sun Zhenyu, afirmou que seu país "já não pode fazer concessões em pontos importantes, como produtos especiais (protegidos de redução de tarifas) e mecanismo de salvaguarda, que afetam a milhões de agricultores pobres".

Segundo o negociador, na reunião desta segunda-feira do grupo dos sete principais envolvidos nas negociações, o Brasil tentou mediar o conflito propondo que os sócios da OMC busquem uma solução "neutra" que permita flexibilizar as posições de seus aliados no G20 sem ter que mudar os pontos já definidos no pacote de Lamy.

"Se mudarmos uma coisa nesse pacote, teríamos que mudar tudo. Por isso a única solução possível seria pensar em algum tipo de compensação que beneficie por outro lado esses países que se sentem prejudicados", disse o negociador.

União Européia e Austrália apóiam a iniciativa brasileira, mas Estados Unidos se mostraram reticentes. Resta saber se os demais membros da OMC estarão dispostos.

Fonte: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/07/080728_omc_atualizarg.shtml>

sábado, 26 de julho de 2008

Mais Rodada Doha...

Apesar de manifestações contrárias...


Celso Amorim afirma que negociação com países da OMC foi muito satisfatória

Genebra, 26 jul (EFE).- O ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou neste sábado que há alguns anos ninguém imaginaria que a questão da agricultura pudesse chegar aonde chegou, em referência à proposta apresentada nesta sexta para salvar as negociações da Rodada de Doha.

"Os números são aceitáveis", disse o ministro na saída de uma reunião do G20 - grupo formado por países agrícolas em desenvolvimento e que é coordenado por Brasil e Índia.

O Brasil é o único país sul-americano que faz parte do restrito "clube" de sete potências comerciais que, nos últimos três dias, negociaram um acordo sobre agricultura e abertura de mercados industriais.

Tal medida teria o objetivo de espalhar o resultado da discussão para um grupo mais amplo de ministros de 30 países que estão em Genebra desde o fim de semana passado.

Este processo deu margem para o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, apresentar uma proposta na qual tenta convergir todos os interesses - proposta aceita pelo Brasil apesar de possuir aspectos que foram rechaçados por membros do G20, inclusive pela Argentina, sua parceria no Mercosul.

Perguntado sobre se esta situação geraria uma crise no G20, Amorim disse que o grupo continua existindo e que seguirá junto em tudo.

O ministro garantiu que o Brasil continua sendo o porta-voz do grupo, embora tenha dito que somente nos temas com os quais concordar.

"Nas questões em que houver antagonismo devemos manter certa neutralidade", declarou.
Afirmou também que "o G20 continua sendo importante" e avança, apesar de existirem diferenças.

Após vários dias de intensas negociações de 30 ministros para tentar desbloquear a Rodada de Doha, que é discutida há sete anos, Lamy apresentou um texto que aparentemente era respaldado pela maior parte dos envolvidos.

No entanto, Argentina, Índia e Indonésia mostraram descontentamento com a proposta.

O ministro de Comércio da Índia, Kamal Nath, disse que os países continuam realizando consultas sobre o texto e lembrou que tanto seu país quanto África do Sul, Egito e Argentina têm pontos de vista diferentes dos de Lamy.

O vice-ministro de Comércio sul-africano, Rob Davies, disse à Agência Efe que seu país não está bloqueando o processo, mas que também não dará "uma folha em branco" a ele.

"Queremos que nos prometam que isto vai ter um resultado para o desenvolvimento", declarou Davies. A África do Sul tem dúvidas quanto às propostas sobre a abertura de mercados industriais.

O ministro de Comércio da Venezuela, Willian Antonio Contreras, disse que muitos notavam com preocupação que o texto, em grande medida, atendia mais às inquietações de alguns membros do que, efetivamente, às necessidades de desenvolvimento da maioria dos membros da OMC.

Já o chanceler argentino, Jorge Taiana, expôs sua oposição à proposta: "As idéias defendidas são mais do mesmo".

Alguns países [...], como Itália, França, Hungria, Irlanda e Lituânia, também confirmaram hoje sua insatisfação com alguns aspectos da proposta de Lamy. Argumentaram que esta "não é equilibrada", bem como consideram que falta equilíbrio ao texto, que requer ajustes para poder ser aceito.

O Governo italiano emitiu uma nota esclarecendo que o primeiro-ministro do país, Silvio Berlusconi, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, concordaram com a "absoluta necessidade" de se alcançar um acordo "positivo e equilibrado".

A proposta de Lamy inclui um corte de ajudas agrícolas que distorcem o comércio e prevê reduções de tarifas que chegarão a 70% nos produtos que são mais caros nos países desenvolvidos.

Assim como o Brasil, o México expressou satisfação com o avanço obtido com o projeto e destacou que a diminuição dos subsídios agrícolas que distorcem o comércio não poderia ser imaginada até poucos anos atrás.

A subsecretária de Negociações Comerciais Internacionais do México, Beatriz Leycegui, disse que, embora existam divergências entre alguns países do G20 quanto à proposta de Lamy, o grupo deve se manter unido.

Por enquanto não se sabe qual será a reação dos membros da OMC ao anúncio da UE de apresentar um novo texto.

Mandelson deixou claro que a Argentina era para estar contente com tudo o que foi conseguido até o momento, assim como deveria fazer cálculos de todas as exportações agrícolas que poderá enviar para a UE.

"Acho que (Buenos Aires) obteve tudo o que queria", declarou Mandelson, evitando assim a principal preocupação argentina, que é a recusa à diminuição das tarifas para importação de bens industriais. Preocupação esta que Buenos Aires compartilha com a Índia.

Mandelson também se referiu a Nova Délhi ao afirmar que, embora a Índia não esteja contente com os textos atuais, deveria esperar a conferência sobre serviços, que acontecerá esta tarde e assinalará os setores que cada país está disposto a liberalizar.

A Índia tem um interesse especial nesta área, já que procura o movimento além da fronteira para seus trabalhadores, sobretudo na área de informática e de telecomunicações.


Fonte: <http://br.noticias.yahoo.com/s/26072008/40/economia-celso-amorim-afirma-negocia-paises-da-omc-satisfatoria.html>